sexta-feira, 22 de junho de 2007

Do recreio ao intervalo

Que saudade da hora do recreio. Recreio era o tempo entre as aulas para a recreação.O que é recreação? Segundo o Aurélio: sentir prazer ou satisfação. Divertir-se é recrear. Não se tem a obrigação de nada afora o prazer.
Um tempo livre dentro do tempo de trabalho ou de alguma forma de produção, raro hoje nas escolas, e nas idades. Lembro-me que nunca voltava o mesmo para a sala de aula. Voltava sujo, machucado, descabelado, suado, rasgado, enfim feliz e renovado. Na atualidade vejo os intervalos. Pessoas sérias em suas vulgaridades, corpos reprimidos pela ausência de movimento, interesses precoces, pressas, pouco papo bom, muita conversa fiada, vícios. O que houve?
É natural a passagem das fases, a maturidade, o apodrecimento resultante da degeneração da capacidade de fazermos uns aos outros felizes, de sermos recreadores. Da nossa fome em nós mesmos, nosso egoísmo : auto-existência e auto-suficiência que nos dão a dificuldade de nos renovarmos. Envelhecer é não querer se renovar. Fazemos pausas improdutivas para as nossas essências, fazemos intervalos sem prazer, sem lazer, sem o lúdico. Lúdicos? Que insulto é esse? Brincar é coisa de criança ou de palhaço... Dois grandes mestres com temos o que aprender, a criança e o palhaço, dois mestres no exercício do ser o que se é. Portanto muito respeito com essas autenticidades das quais carecemos.
Seria bom se mantivéssemos nossas gracinhas infantis, nosso despudor, nossa coragem despretensiosa de sermos verdadeiros, nossos interesses legitimados em nossas vontades. Éramos conscientes e não sabíamos. Éramos plenos de vida e vazios de ambições. Não prejudicávamos ninguém, só queríamos rir e fazer rir, brincar, recrear e depois voltarmos a aula para a realidade modificada pela renovação que propiciávamos uns aos outros. Mas o que é a vida? É coisa séria. É coisa de adulto.Viver não é brincar-grita a sociedade professorando o capitalismo: já para o trabalho. A vida não é recreio.
Estamos no intervalo, isso aqui não é recreio não.

Conectividade

Tao é uma expressão chinesa comumente traduzida por caminho.Caminho é o método. Um caminho sempre leva a algum lugar. Então Tao é o caminho de quem caminha enquanto caminha. Um caminho que só existe enquanto alguém o percorre. É o vazio construtor de tudo, o fio, a conectividade entre o ser, o vir-a-ser e o não-ser. Essa conectividade é chamada de wan wu e é conceituada assim: inseparabilidade de todas as coisas. E se percebe como naturalidade, simplicidade, espontaneidade. Se algo emperra, está desconectando. Gosto desse conceito, ele mostra como pensamos e agimos em blocos. Nossas ações são pesadas de intenções separadas pelos nossos pensamentos. Pensamos uma coisa, fazemos outra e tínhamos nossa intenção em outra ainda. Estamos essencialmente separados. Somos aleatórios, desconcentrados, sem nossa conectividade. Estamos perdidos, andando sem rumo, fingindo que sabemos para onde vamos apenas porque lemos placas.

Entre a usp e o cuspe

No começo era o verbo. O verbo era o poder. Porém todo começo tem seu antes. O que havia antes de nosso começo? Do que estamos falando? Filosofia? Religião? História? Sociedade? Estamos tratando de tudo isso: Educação. A educação começa na vida tribal, bem antes do ensino ser estruturado, bem antes de existir a escola e o professor e o aluno. Era época onde os mitos eram a própria realidade. Era nesse tempo em que não havia razão, mas todos seguiam esse saber mítico para explicar os mistérios e nortear suas vidas, que todos participavam da educação um do outro. Esses educandos e educadores não tinham uma saber ou uma especialidade preparatória. Não havia neles a pré-ocupação do futuro. Suas atitudes eram para o agora, o hoje. “Aprendiam pela vida e para a vida”.Com o crescimento da população, suas migrações para áreas pluviais, intensificaram – se a relações entre povos, surgiu a escrita, o comércio. O intercâmbio cultural e comercial foi início da sociedade antiga, onde se notou que o conhecimento era poder. E que o poder não é para todos. Começa-se o elitizar da educação num modelo que persiste até os dias de hoje.Hoje noto uma mudança de conceitos embora ainda da riqueza herdada pela elitização. A educação pública surgira como forma de “educação para servos”. Então tudo nela era montado para dar aos educandos o conforto de suas condições insinuando-se a proibição de avanços, mudanças, ou transformações sociais. Era uma forma de se assegurar a elite que ela nascida elite, seria elite até o fim. Esta por sua vez estudaria com os melhores mestres nas maiores escolas que o dinheiro pudesse construir e/ou comprar. Como hoje, naquela época as pessoas nasciam em condições de receber apenas um tipo de educação. E isso era determinado pela hierarquia social. É nojento. Felizmente houve as anomalias que contrariando o sistema imposto fizeram-se livres do determinismo dessa linha de produção educacional. Sim a educação é feita em escala, sob medida, numa linha de produção. Há uma empresa para isso, dirigida pelo poder, pelo dinheiro da elite.
O surgimento das universidades representa o ápice da do poder pelo saber. Surgidas as primeiras nos mosteiros, onde os filhos da nobreza eram educados segundo os dogmas clericais as universidades foram as corruptoras refinadas do direito humano ao conhecimento, restringindo-o à classe dominante. O título desse texto é um epitáfio para onde enterramos diariamente a educação. Diariamente quando validamos o valor do que nos desvaloriza. Quando permitimos a essa sociedade hipócrita que nos insulte com suas falsas excelências. Quando alunos e mestres, se não estamos numa usp estamos num cuspe. Algo que será escarrado em forma de profissional mas não terá seus lugar ao sol. As universidades federais hoje exigem uma preparação. Uma preparação que nenhuma escola pública de ensino infantil, fundamental e médio é capaz de prover. O que ocorre então? Não devia a universidade federal ser uma continuação do ensino público? Não. Onde está a elite? No poder. Você acha que alguém vai pagar uma faculdade quando pode dar a si mesmo e aos seus de graça? Se eu estivesse no poder não pagaria minha faculdade. E ainda criaria condições para que ela se tornasse a melhor. Top de linha, reconhecida internacionalmente. Com os recursos a produção cientifica e o ensino de qualidade trariam notoriedade e mais membros da elite se beneficiariam! Assim todo saber imediato à vida e a manutenção dos padrões nos salvaria da ascensão bárbara dos pobres. Qualidade! Isso é que a faz a diferença: as qualidades, os adjetivos mais que substantivos. Se eu estudo na “melhor” universidade, meu serviço especializado vindo dos tributos pagos pela plebe focará no atendimento da demanda da própria elite. Ou seja, trabalharei pouco e ganharei muito. Ou posso trabalhar mais e ganhar muito, mas muito mais. E se além de rico e inteligente eu for esperto, trabalharei também numa instituição pública! Lá terei várias funções pagas e nem precisarei ir a todas. Serei professor, coordenar, supervisor, chefe de algum departamento, e daí para cima. Ninguém notará que além dessas funções eu mantenho uma clínica ou escritório particular onde ganho com muito suor meu dinheirinho.
Sem contar nos projetos que a outras instituições fapespianas do governo podem me financiar. Sem contar nos projetos que posso lançar aos ministérios para arrecadar fundos para meus cursos, afinal sou professor!
Enquanto isso no mesmo planeta alguém que optou por estudar tem que sacrificar sua família, seus poucos recursos, seu trabalho desvalorizado pela sua condição. Você ganha isso porque estudou para ganhar isso –disse o chefe. Na realidade ele ganha isso porque não estudou. E por quê? Lembre da história acima, de como a elite se mantém no ensino público e a custas disso encarece seus preços e qualidade de seus serviços amparados pela especialização financiada pelo dinheiro público é uma excelência escravocrata, que não volta para a maioria da sociedade, o “Zé povão”. Aí proliferam as faculdades particulares, onde o ensino de qualidade depende do preço da mensalidade. Quanto mais cara melhor. E quem são os professores? Lembre da história acima, onde a multi-pessoa trabalha também respaldada num titulo alcançado sofridamente por anos de estudos. Sofridos anos de universidade pública onde ela pagou muito com seu precioso tempo. Ela poderia ter viajado mais pelo mundo, ido mais às grifs, mas não, ficou enfurnada numa sala de aula por anos, coitadinha. Uns 18 anos até o doutorado, uma vida inteira. Formados querem o retorno da moeda, do tempo perdido. Agora veja o outro lado da cédula velha que a história usa para nos comprar: o estudante da universidade particular. Trabalha de dia , estuda de noite. Ou vice-versa. Paga do próprio bolso a incapacitação social imposta: ou trabalha ou estuda. Estudar é em período integral. Sem contar que terá que estagiar. Então há o desdobramento da fatídica decisão: mudar a realidade ou não? Se sim ele terá que arcar pela escolha. Seu dia será curto se tiver 24h. Seu aprendizado estará comprometido se ele não cumprir com rigor a autodeterminação em estudar. E sua futura profissão estará sujeita à dupla jornada trabalho-estudo. É sofrido. Por isso governantes não investem em educação. A base, o ensino do infantil ao médio é vergonhoso. É para servos. Os donos dos servos pagam por uma educação real, menos preparatória e mais mantenedora de sua linhagem. Chego a pensar nos moldes da linha de produção da obra de A. Huxley, O Admirável Mundo Novo, somos criados pelos deterministas. Desse ovo nunca sairá a ave. A sua educação é uma herança genética, ou você nasce para uma usp ou lhe ensinarão que você nasceu para o cuspe.

Esporte é saúde?

Segundo a OMS, “Saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social completo e não apenas a ausência de enfermidade”.
Sabendo o que é saúde e o que é esporte podemos nos atrever a perguntar: esporte é saúde?
Uma atividade em que o sucesso depende da performance e que a performance é exigida repetidas vezes em nome da vitória, e tem que ser mantida como um padrão conquistado por treinamento ou talento está distante de propiciar saúde. A estrutura do profissionalismo já nasce doente. O esporte é um crime. Cerceia a liberdade do corpo , torna-o um objeto do treinador que é um objeto do clube, do time, da associação. Que por sua vez se mantém e arrecada seus recursos em nome de uma instituição maior que leva o nome do esporte seja ele futebol, voleibol, natação entre outros. Quem mantém o esporte não são os atletas que recebem para representá-lo. São os patrocinadores que vão desde grandes empresas à torcidas que enchem o evento pagando para ter sua “recreação”. O esportista em geral é alguém que sonha com a carreira profissional: fama e dinheiro a auto-realização humana.
O esporte como o jogo tem por natureza a competição e suas preciosas lições: o superior vence. Todos competem tentando provar superioridade. A meta é a vitória. E a vitória simboliza muitas coisas, dentre elas o nacionalismo, a eugenia, a discriminação. O discurso do esporte é a vida saudável, o trabalho social, integração. O esporte educa. Não , o esporte deseduca. No Brasil é incompatível estudar e ser esportista. A educação é sacrificada desde cedo.Se olharmos os rostos dos atletas veremos a expressão do estresse, de insatisfação, de burrice de ganância. São caricaturas de feitos heróicos, querem conquistar sem antes conquistarem a si mesmos. Querem conquistar um recorde, uma marca algo que os evidencie acima da média, vitoriosos.
Mas certamente na vida de cada profissional houve um momento onde ele se divertia com o que fazia. Seu esporte era ser feliz. Até que alguém dá a ele ou ele num lapso de autonomia tem por si mesmo uma idéia: ser profissional. Dependendo de onde ele vai passa a ser grato ao esporte: o esporte me deu tudo. O esporte me tirou das drogas e da rua. O esporte me deu saúde, diz em entrevista depois de anos em clínicas de reabilitação, felizmente ou infelizmente a instituição se tornou mais importante que as pessoas que a criaram. O esporte deixa tanta gente doente que já tem a medicina do esporte. Como uma coisa que cria um setor inteiro de medicina pode promover saúde?
E na escala social qual a contribuição real? Ele diminuiu a violência? Ele contribui para a educação? É uma instituição honesta? É um movimento cultural?
Atualmente nada vejo de lúdico ou recreativo no esporte. Não entendo a idéia de lazer ao ato de assistir e torcer por um time por explo. O desgaste, que isso gera, o envolvimento emocional imediato, o clímax. Além de lesar e burrificar, o esporte produz miséria e dentre as misérias alienantes a maior de todas que é tirar do ser humano o direito ao movimento. O sujeito fica horas frente a tv, ou numa arquibancada esperando por um detalhe que o massificará, passando por um período em que não precisa pensar, só “sentir “, ir na “ola”. Colocar o corpo no senso-comum, eis o esporte. Utilizar a repetição de movimento em regras estabelecidas, eis o esporte, minando a criatividade de quem faz e vê. Eis que ele é feito de atividade física, mas sem variação e por isso lesa o corpo e mente. Mente com seu discurso sobre saúde física, mental e social. Desconfio que o esporte seja uma arma perigosa. Aquela coisa de se formar o cidadão pode muito bem ser deformar o cidadão. A aparência do esporte é bela. A aparência é apenas a ponta do iceberg.

Maharishi Maheshi Yogi

Quem já leu, ouviu, viu alguma coisa sobre os Beatles certamente se lembrará de suas viagens na Meditação Transcendental e seu Guru o Maharishi. Imagine, composta por John Lennon está recheada dos frutos saborosos da MT. Meditantes gostam de falar de como essa prática integra corpo e mente. Meditantes com vivências corporais intensas gostam de demonstar essa interação tão forte do físico com o mental. Ah ! O corpo como caminho:
Certa vez perguntaram ao Maharishi por que o corpo se colocava como obstáculo à meditação e ao avanço da espiritualidade. Ele respondeu mais ou menos assim:
Você ganhou de presente um cachorro. Vocês são estranhos. Tentando acariciá-lo você foi mordido. Você bate nele e o prende...Ele nunca se tornará seu amigo. Ou em vez disso, você lhe dá boa comida, local para dormir e liberdade. Ele lhe retribuirá. Assim é com nosso corpo. Como servimos a ele, ele nos serve.

Filosofia do corpo

A sociedade se reproduz para se manter de mesmo jeito. Assim o conhecimento deve estar de acordo com o que a sociedade nessa época exige. Isso invalida a história como análise de nossa formação: embora conheçamos a história repetimos os mesmos erros.Em se tratando do corpo onde ele se situa? Onde está o seu corpo agora? A superficialidade de nossas relações começa na superfície da relação que temos com o nosso corpo. Não entendemos os questionamentos corporais nem o quanto são solicitantes de atenção. Ficamos de qualquer jeito, ou fazemos qualquer coisa, pois fomos adestrados e não educados. Nenhum sistema educacional motiva ao autoconhecimento. Sem isso tornamo-nos depósitos. Guardamos o que não produzimos. Até nossa idéia de felicidade é reproduzida e estocada dentro de nossas cabeças.
E nesse rótulo nesse frasco sem prazo de validade e sem informações nutricionais, faz com que vivamos sem sabermos quem somos. Somos um conteúdo sem a verdadeira consciência de si. Isso nos massifica. Isso nos coisifica. Nossa organização não permite reorganização. Nosso cérebro está provado, possui uma enorme plasticidade. Podemos nos adaptar. Todo a nossa história evolutiva está enraizada na capacidade de nos adaptarmos. Renegamos esse conhecimento.
Tenho visto no corpo os sintomas de muitas doenças da mente. Tenho visto as fronteiras da linguagem. Ainda não apreendemos, pois, que a linguagem é o símbolo através do fonema, do padrão sonoro. A reprodução está implícita como ordem no universo. Nosso corpo pode ser concebido como fruto da reprodução. Está determinado a se reproduzir, esse é o seu propósito, isso é a vida: continuidade da reprodução. Isso é uniformização do ser. Nada pode ser diferente, tudo segue o padrão. E o que não segue padrão paradoxalmente gerará um novo padrão. Estamos confinados? Encurralados? As doenças da mente e do corpo são as doenças do ser. Queremos ser. Eis que surge o excesso, pois já somos. Mas queremos ser o que os outros são. Queremos ser o que o ideal nos mostra. Queremos uma adequação do nosso ser ao julgamento alheio. E o corpo é a representação disso: de nossa busca pelo ser. O corpo com seu adoecimento é nossa falta de investigação: quem somos nós? Todas as dependências químicas e não-químicas são a negação, a refutação reducionista de nossa autonomia. Não queremos ser autônomos. Que graça tem esperar por uma onda que seja a sua, se todos vão juntos numa mesma onda?A individualidade pesa , a individualidade é uma solidão aterradora. Então nos anulamos, é melhor sermos agradáveis do que sermos autênticos. Todos queremos aceitação. A sociedade é feita dos que se aceitam, dos que se ajustam a ela. E o seu corpo estará no seu grupo. Talvez o seu grupo seja mais determinado pelo seu corpo do que pelas suas idéias. Seu corpo tem que estar limpo, bem vestido e mostrar suas posses. Está no corpo a primeira troca de impressões. Impressões do que somos. Isso seria um equívoco se não fosse uma imposição. Só o autoconhecimento pode nos preparar para a transcendência. Só a transcendência pode nos levar além dos paradigmas. Nós inventamos fronteiras que não existem e a maioria delas começa no corpo.

Uniforme escolar

Ao se entrar numa faculdade de Educação Física somos assombrados por uma determinação: sem uniforme não há aula.Cursos de Educação Física obrigam o uso do uniforme. Todos acatam. Mas eu pergunto: por quê?
Um dos professores disse que sempre foi assim e mudou de assunto e de aluno.
Quando a ginástica surgiu com os gregos eles se exercitavam nus. Nus como a verdade. O que encobrimos? Certamente a roupa nos tira o sentido de liberdade, de estarmos à vontade, de sermos nós mesmos, de nos movermos com naturalidade. Somos o que vestimos. Comecei a pensar sobre o assunto. Qual o papel do uniforme? Qual o nosso papel? Papel? Acaso estamos representando alguma coisa? Vejamos: olhando ao seu redor perceba as classes de pessoas em suas respectivas profissões e estilos de vida.Todos estão de alguma forma uniformizados. O uniforme entre outras coisas fornecem identidade. Se você tem a sua cuidado! Em breve ela pode ser substituída pelo seu uniforme. Além da identidade há uma idéia de igualdade, de padrão, de simetria, de ordem, daí o termo uniforme.O uniforme é uma fila vestida. Agora pense: se sua identidade foi instituída e você está igual ao seu colega o que isso representa? Que você está sob controle. Que você pertence a um órgão, conselho, clube, escola, profissão, classe. Que você é igual. E por mais que você sobressaia você de alguma forma terá que usar um uniforme. Quando uma classe se veste igual, não fica difícil as pessoas envolvidas pensarem que tem as mesmas idéias, os mesmos ideais e que estão no mesmo barco de alguma forma. Isto é bom, isso de alguma forma integra, coletiva enquanto fragmenta o nosso senso de indivíduos em prol de uma “causa”. A ordem fica aparelhada na simetria. É mais fácil controlar, manipular, subjugar uma classe escolar, por exemplo, se todos estiverem uniformizados. O uniforme é uma algema para espírito, vestindo o corpo com uma ideologia própria.
Assim com a carteira escolar reduz o movimento corporal, aprisionando o aluno para que ele obediente aprenda a roupa nos reduz a uma ordem imposta. A esta altura se sobrou algum leitor para estas linhas deve estar me achando um maluco. Ou não. Talvez você tenha sentido um desconforto quando alguém disse que seu aprendizado, sua formação depende de seu uniforme escolar. De onde vem isso? Será que é uma herança ancestral da militarização? Quando nós elegemos uma roupa para uma determinada atividade, por questões práticas não ponderamos a que processos o hábito de vesti-la para aquele determinado fim nos levará. Por fim a roupa determina sua situação. Isso fica impresso na sociedade que acata o sentido de ordenamento. Você se uniformizou. Agora fica fácil ser classificado, identificado, controlado. Pelo que você veste sabemos o que você pode, deve ou não fazer. Assim estamos sob um tipo de controle uns dos outros com a informação passada pela nossa vestimenta. É uma doutrinação. O uniforme diz qual é a sua função, qual é o seu papel. E aí? Você não vai representar?

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Textos

Diálogo com o corpo
Você já conversou com o seu corpo hoje? O corpo é gente, não o tratemos como coisa que se trata sem carinho e indiferença. Não importa o lugar, sinta-se corpo. Agradeça-lhe e perceba dele uma gratidão em troca...esse bem-estar, esse bem-ser que que emana de cada célula, de cada pensamento. Estabeleça-se como corpo, que na história humana por tanto tempo foi reprimido e hoje anda meio esquecido enquanto entidade viva. Converse com cada parte do seu corpo, cada dor física que sentir, cada desconforto, cada opressão manifestada nele, falem-se sobre. E curta , vivencie toda possibilidade de prazer,alegria, sabedoria e relacionamento entre vocês. Vocês se tornarão grandes amigos e conhecidos.Deseje-lhe muita saúde, muito prazer, muita vida e dê a ele isso sempre. Não o maltrate como se fosse uma parte de você que você não gosta. Assuma seu amor por ele. E por fim reconheça que você é ele : o seu corpo , o eu-corpo.

A Deseducação Física em observação
É fato que se conceba no ensino a avaliação e não a auto-avaliação.O grande redemoinho a sugar a nossa formação humana enquanto aprendizes é justamente o confronto : avaliação X auto-avaliação. Avalia-te a ti mesmo, porque o tempo todo somos avaliados de diversas formas pelos os outros. Percebendo ou não isso guia uma série de nossos comportamentos. Um simples olhar sobre nós nos muda em alguma coisa.Essa mudança muitas vezes tem função adaptativa. Reações desapercebidas de ações irrefletidas conceituaria melhor o comportamento que temos atualmente. Temos uma apreciação funcional das coisas que não nos obrigam a pensar. Gostamos do gênero ação pois ele nos sucessivos atropelamentos dos fatos da vida cotidiana entope nossas vias reflexivas com o muco de tantas imagens e poses que concluímos: o que vemos é a realidade. Falta-nos o auto-estudo, por isso desabituados à auto-avaliação, entramos fundo nas cavernas dos auto-achismos ( eu acho que eu...) e se nossa opinião é contestada somos jogados ao vento da indecisão. Estamos ou lá ou cá e nunca no meio, nunca centrados, sempre pendentes. Faltou-nos o básico : auto-observação.Auto-observação, quem de nós hoje pára como observador de si mesmo? Disseram-nos que o olhar é para ver para fora. Ninguém olha para dentro, é impossível. Começamos por fazer coisas que negaremos ter feito mais tarde. Queremos conhecer os outros e o mundo. Interessante é como os outros nos conhecem melhor que nós mesmos. Para encontramos as fontes temos que ir contra o curso do rio. Para se entender a educação a fonte é a deseducação. Como você tem se deseducado? Como eu tenho me deseducado? É preciso que alguém me eduque?
Um dos sinônimos de educar é disciplinar. Má-educação e falta de educação se observa por indisciplina. Dificilmente pessoas educadas são indisciplinadas. Disciplina no sentido de obediência, regra de conduta é tida como afronta à liberdade. Temos que seguir, temos que cumprir, temos que fazer, temos que trabalhar, temos que nos adequar à moral vigente. E aí chutamos o balde: para quê? Chutamos transgredindo. A regra passa a ser transgredir a regra. Então nos tornamos os desajustes sociais. Incompreendidos e contra o sistema. Rebeldes. Alienados. Inimigos do Estado ou do Bush. Mas não nos detivemos ao fato de que continuamos olhando para fora. Não mergulhamos, nadamos pela superfície mundana. Por que será que sentimos tanto a falta de uma platéia, de um observador? Queremos mostrar quem somos? Nossa identidade também se forma a partir do outro sem dúvida. Mas onde é fronteira? Onde eu sou realmente eu e deixo que o outro seja ele mesmo? Onde é permitido que nossa convivência nos transforme? Até onde percebemos e nos deixamos influenciar e sermos influenciados?
Tenho visto a minha deseducação física e de muitos camaradas do curso. É uma falta de noção do que se pretende e do que se está fazendo. Outro dia vi seis estudantes da disciplina furando uma fila enorme. Todos uniformizados. Por estar sem uniforme ouvi a indignação que foi compartilhada por mim e por todos: tinha que ser EF (de ÉFoda). Conhecia aquelas pessoas e sabia que não era a EF ( que já estava para ÉFudida). Cada pessoa tem sua autoformação ou autoformatação. Não se pode generalizar. Não era a disciplina e sim a indisciplina de algumas pessoas. Passemos do senso comum para o bom senso. Não era a Educação Física e sim a deseducação física. Como futuros educadores temos que nos auto-avaliarmos. O rumo de nossas ações, se são nossas, deve pautar em nossas reflexões. Que tipo de educador eu quero ser? O que eu tenho feito para isso? Como eu estou me formando? Há um forte pensamento em mim de que se eu passar pelos crivos da auto-observação+auto-estudo+auto-avaliação=autonomia, talvez eu possa ser de fato um educador físico. E minha avaliação não se tenha dúvida será um convite para a auto-observação...observe-se.

Liberdade, Igualdade e Fraternidade
Para quem? Foi no ano de 1789 que se concretizou o ideal de igualdade. Diferentes classes sociais unidas pela luta contra o absolutismo. Gritam o povo, os filósofos, cientistas e a burguesia fraternalmente por liberdade. A nobreza foi para a guilhotina. A queda da Bastilha: Liberdade!Era uma época de profundas transformações sociais e políticas. A Revolução Industrial intensificou a produção e o comércio. O obscurantismo da Igreja não cabia mais, as cidades estavam abarrotadas de trabalhadores insatisfeitos. A burguesia sentia-se explorada pela coroa. O lema era assim : o povo pedia igualdade. A burguesia: liberdade. E a nobreza e clero : pediam por fraternidade. Eram três forças conflitantes entre si. A Igreja estava perdendo seu poder, a nobreza se enriquecia da exploração da burguesia e de seus monopólios. Os burgueses queriam ser liberados dos deveres comerciais para com a nobreza e clero, posto que detinham o poder econômico e vislumbravam o alvorecer do capitalismo.Mas olhando hoje onde está a liberdade, a igualdade e a fraternidade aspiração e inspiração daquele momento ? Não houve a tão aclamada união entre burgueses e trabalhadores. Eram patrões manipulando os empregados. Eram elites conduzindo as massas em benefício próprio. Mesmo com o primeiro projeto de escola pública, laica, feito pelo "Marquês de Condorcet", então deputado eleito por Paris havia a relação entre trabalho-escola (como ainda hoje). Eram empregadas em jornadas de 14h a 16h mãos-de-obra infantil e feminina. Quem poderia estudar? Quem é livre do trabalho material. Quem precisa trabalhar para sobreviver não. Aquele papo que se arrasta até a atualidade sobre educação ser direto de todos e dever do Estado é furado. Sequer o acesso é democratizado.A liberdade pregada para todos na prática era a liberdade para a burguesia dando a base do liberalismo econômico: relações comerciais desenvolvidas com um mínimo de intervenção do estado, ou seja, exploração econômica para mais acúmulo de riquezas. Se recuarmos no tempo quando a educação deixou de ser difusa com o desaparecimento das sociedades tribais, houve uma elitização primordial feita pelo surgimento das relações comerciais e pelo reconhecimento do saber como forma de poder. Isto está explícito na Grécia Clássica, onde os cidadãos eram os homens livres, na ascensão de Roma. Na Idade Média com o poder da Igreja. Na Idade moderna com o domínio burguês. E atualmente continua o dualismo escolar e a desigualdade social. Confunde-se a Educação com Doutrinação de um modo que não há muita diferença entre educar e adestrar. A educação da elite é uma e a do povo é outra. A revolução francesa que escrevo com letras minúsculas não passou de uma revolução burguesa. O iluminismo apesar do discurso foi mais uma fraude. As coisas não mudam, elas apenas se adequam a cada época e cada insinuação de mudança das classes menos favorecidas. Pergunte-se quem são os donos do ensino? Quem dita a Educação? Quem de fato se educa e se educa para quê?Vivemos sem liberdade. Vivemos sem igualdade. Vivemos sem fraternidade. Sempre.

Sobre alguma importância
Independente de ser analisada pelo prisma em que a vê como disciplina acadêmica, profissão ou meio educativo a Educação Física é importante. Ela teve e sempre terá um papel fundamental na formação integral do homem. Toda atividade desse homem é uma atividade física, motora, num mundo físico transformando-o constantemente em mundo social, afetivo e cognitivo por meio de diversas representações. Portanto, não existe atividade puramente intelectual, nem puramente física, nem puramente social. Nem a água é pura. Se fosse não seria quimicamente composta por duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio; H2O. Não dá para separar o cognitivo do sócio-afetivo e do motor. Estamos atrasados em colocar em baixos salários, falta de reconhecimento, falta de identidade, deméritos à educação física. Ela é contribuidora para uma sociedade mais saudável, mais livre, com mais movimentos em todos os seus sentidos. Rui Barbosa , o Águia de Haia , em 1882 defendeu a inclusão da ginástica nas escolas e a equiparação de seus professores aos de outras disciplinas. Explicitou sua idéia de corpo saudável para o sustento da atividade intelectual, remetendo a lembrança à fala do romano Juvenal: Mens sana in corpore sano. Mexendo com o corpo e com o movimento humano, a EF esbarra na falta de bom senso daqueles que tem o corpo como limitação, preconceito, insatisfação e doença. Cada pessoa tem uma concepção de corpo, geralmente estabelecida por uma relação entre o corpo-eu e o corpo-objeto. Essas concepções podem ser causa ou efeito de diversos desequilíbrios. Não cabe ao educador físico corrigir esses desequilíbrios e sim aparelhar a pessoa para uma reflexão ativa no movimento a respeito de suas manifestações corporais e sua realidade. São concepções carentes da intervenção de um educador físico. Se dermos uma pequena aula de ginástica ou qualquer outra atividade física para leigos, poderemos notar que um ou dois repetirão os movimentos com precisão e questionamento. Sendo que o restante sequer perceberá suas sensações durante a prática. A esse restante faltará sincronia, equilíbrio, atenção. Olhando de fora pode-se dizer que fazem aquilo não do jeito transmitido, mas de qualquer jeito. De qualquer jeito é o jeito que levam os seus corpos. Sem reflexão, sem sensação e sem percepção. Não tivemos como maioria uma educação física. Assim enquanto fazedores inativos dos fatos sociais somos levados a crer que o nosso corpo é para o trabalho e que o lazer é um descanso e por ser descanso inatividade. Inatividade gera inatividade. Quando alguém me pergunta sobre o porquê da EF respondo com a proposta de que observe-se enquanto corpo e seus movimentos. Aí começamos a conversar sobre a importância da Educação Física.

Autodidata
Como as instituições de ensino são onde ele é comercializado, o conhecimento passa a ser considerado um bem, um valor. E o que encarece ou não é a qualidade de quem o transmite apoiado em competências, tradição e atualização. A tradição valida, a atualização utiliza e a competência une as duas. Uma é herança, outra é inovação e a terceira interação. Como surge o conhecimento? Como podemos abordá-lo? Ao ler um jornal do dia apesar da data ser de hoje os fatos eram da semana e de ontem. Que informação é essa que não informa o que está acontecendo? A informação é sempre do passado. O presente é uma volta para armazenagem de coisas ocorridas. O presente é resultado dessa armazenagem que nos mobiliza apesar de inútil. E nossas emoções? Também não há um espaço entre o que ocorreu para sentirmos e o que sentimos? De onde vem o seu sentimento? O que é o agora? O que é o futuro? O que eles produzem? Se há um tempo entre o cérebro reconhecer o fenômeno e se adaptar a ele, quando isso ocorre já não é passado? Será que o tempo funciona ao contrário? Quem diria que o futuro não é a vinda do passado e que o presente não fosse senão o reconhecimento disso?Hoje em dia o conhecimento para ser valorizado tem que ter o aval de alguma ciência. A ciência como produtora de conhecimento é que decide como esse conhecimento chegará a sociedade. De que forma? Uma arma mais potente? Uma cura? Um mapeamento genético mais apurado? Que impacto trará esse conhecimento? Certamente sob o selo do cientista será acatado. Mas e as nossas descobertas pessoais? Que valor elas têm? Como nos transformam e qual seu impacto na nossa vida e na rede de vidas a qual estamos conectados? Não é engraçado o mistério de como o cérebro apesar de não ser músculo e não fazer nenhum movimento produzir tantas coisas?Admiração, espanto pelos autodidatas! Autodidatas são os que ensinam a si mesmos. Os que não dependem de paredes, de autoridade reconhecida para validar o que aprendem, os que aprendem para manifestar suas vontades internas, para canalizar os recursos do mundo num fluxo contínuo propiciado pela curiosidade, pelo espanto, pela dúvida. Quando alguém se revela autodidata é marginalizado. Seu conhecimento é colocado à prova. Ele é ridicularizado por ter idéias e meios próprios. É nomeado charlatão muitas vezes pela falta do rigor fragmentário da ciência. Mas tudo isso cai por terra quando ele faz o que sabe e demonstra que as relações com o aprendizado podem sim seguir por vias intuitivas, pela experiência subjetiva, pelo esforço pessoal. E a sociedade se impõe negando lhe o feito herculíneo de estar numa rotina e além dela. De ser uma pessoa comum, mas ciente da possibilidade de apreender sozinho, de criar, de juntar. Esse aprendizado é o de valor. O que transforma a partir de si mesmo, pois quem aprende e quem ensina são uma única pessoa. Cabe a ela somente a validação desse conhecimento produzido. O conhecimento só é seu quando você faz uso dele.

Qualidade de vida
O que é qualidade de vida? Tenho me propiciado respostas vivenciando essa busca por qualidade diariamente e cheguei em alguns apontamentos. Qualidade de vida é qualidade de pensamentos. É qualidade nas atitudes. É qualidade de escolhas e emoções. É qualidade de relacionamentos. Não importa o que se tem, mas como se encara vida, como se é. Qualidade de vida é qualidade de ser.

MEC- Mistérios da Educação e Cultura
Num feliz encontro com uma amiga agora universitária perguntei-lhe se ela havia conseguido alguma bolsa pelo MEC, ou pela faculdade ou por algum outro programa._"Nem pelo MEC, muito menos pela faculdade, mas programa para pagar a faculdade não está faltando. E você quer meu telefone para um programa"?Pois é minha amiga, mais um Mistério da Educação e Cultura, para catalogarmos como programa de acessibilidade ao ensino superior...
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Mister mesmo é como muita universidade está revertendo curriculum para curridiculum: para evitar a evasão escolar, coisa muito ruim capitalisticamente falando, além da prova, muitas delas tem incluído a " prova de ajuda", um meio eficaz de elevar a nota da garotada e uma maneira discretíssima de mostrar que o empenho não tem valor. Defasagem coletiva no ensino...
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Ter um blog para quê?

Para um esgrimista a espada e a caneta tem o mesmo poder. Sua arte é auto-expressão. Sua expressão vem de auto-estudo como uma faceta da busca pelo seu autoconhecimento. A escrita e a esgrima representam o caminho e o destino : autonomia.
Escrever é revelador. É um prazer. Uma terapia. Um termômetro para saber o grau do pensamento reflexivo. Uma prática de autotranscendência. A escrita é uma grande companheira e educadora.