Há muitas formas de exclusão. Lembro-me que voltava de um dia de estágio em Mauá, comunidade carente, gente sofrida. Parei na estação de trem de Sto André para tomar um café. Estava pensando sobre a nossa sorte. Que não é má, talvez faltosa. Como eu gostaria de levar uma melhoria significativa àquelas pessoas...como eu gostaria de mudar minha própria situação. Minha motivação na Educação Física é uma esperança. Dias melhores para todos. Dias de oportunidades. Estava viajando para um futuro próximo quando fui tocado : _ "tiu, me paga um café?". Perguntei o nome do meu mais novo amigo de 7 anos e pedi um café no capricho para ele. Ele me falou um pouco de sua vida na rua, e me veio a comunidade onde eu estagiara e como tudo se torna uma extensão das pessoas. As ruas têm nossos rostos. Eis as placas com os nomes. Ao término do café me despedi e disse que além de um prazer estar com ele desejava-lhe boa sorte. _Sorte!"Eu tenho muita sorte". E com um sorriso sujo e feliz, com aquelas falhas nos dentes típicas de crianças levadas meu pequeno amigo partiu. Saiu correndo entre a multidão mas não desapareceu de minha lembrança. Quando ele disse que tinha muita sorte, tive que me conter para não chorar na frente dele. Aí bate uma revolta. Há saqueadores que roubam o futuro. Muita gente com tanta " sorte " não reconhece a sorte que tem. Não vê a possibilidade de inclusão, de compartilhar o sucesso, a afetividade, o conhecimento. O discurso hipócrita de tirar a criança da rua, as assistências que se enriquecem prestando esse serviço...eles dão a fome para a sociedade e depois vendem a comida. É assim que funciona, cada ong, cada projeto, com o financiamento, a doação, a colaboração são véus para interesses particulares de seus criadores, mantenedores, diretores. A ong e o projeto tiram da sociedade que serve a mobilização. É assim: eles se mobilizam para te mobilizar, mas na verdade você não se mobiliza. Você paga, doa, entrega algum bem material ou não. É o sistema. Máfias e máfias. Os beneficiários do discurso da intervenção social são esses caras aí...que vão para a rua fazer média, aparecer na imprensa, dar entrevistas recheadas de pesquisas e citações. Uma bosta muito fedida no seu caminho, no meu caminho cidadão. Corruptos bem educados e com seus esquemas de enriquecimento cobertos por poderes acima e desconhecimento da população. Precisamos de informação séria e não superficial sobre os nossos direitos e o que está sendo feito com nossas contribuições. " Vamos tirar a criançada da rua". A rua é das e para as crianças. Se na cidade grande ela é dos carros e não das brincadeiras, os carros que cedam.
O que é a rua? A rua é moradia. Não há espaço mais democrático do que a rua. Por que tirar as crianças da rua? Porque a rua foi dada aos traficantes, aos bandidos, virou gaiola para cobaias que são usadas por instituições. O povo saiu da rua. A rua não mais é o palco das manifestações populares. A rua é entre a calçada da polícia e a calçada do bandido. E o tráfego, o congestionamento é de pequenos, pequenos futuros. Lamentável. Para ir para a rua que é sinônimo de podridão em casa a criança teria que sofrer muito. E sofre. Sofre principalmente pela falta de educação dos adultos.
O ser humano não reconhece as carências do essencial. Crê que o essencial é ser alguém importante em vez de alguém que se importa. Ele se exclui e depois aos outros. Começa na infância. Se o futuro do país são as crianças, como estamos tratando os pequenos? Como estamos tratando o futuro agora? Preocupante.