quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Símbolo da Educação Física



Lembro-me de ter perguntado para uma professora o que representava o símbolo da Educação Física  quem o elegeu e como. A professora de ginástica se limitou a insinuar que ele era muito antigo, grego, simbolizava o  movimento. Não acredite que o conhecimento está na universidade. Está nas pessoas agentes. Baseado no princípio da auto-educação, que descarta todo professor como educador porque não passou por esse simples processo, fiz minha pesquisa inconformado com o simplismo da resposta:

 O Discóbolo de Mirón foi escolhido como símbolo da Educação Física por representar a força e o dinamismo característicos dessa profissão. Aprovada em reunião plenária do Conselho Federal de Educação Física, tal escolha está documentada no texto abaixo:

RESOLUÇÃO CONFEF nº 49/2002

Dispõe sobre o símbolo, a cor e o anel de grau da Profissão de Educação Física.

Art. 1º - Ficam aprovados o símbolo, a cor e o anel de grau da Profissão de Educação Física, como segue:

§1º - SÍMBOLO: Discóbolo - por estar baseado nos movimentos do corpo humano em ação. O Discóbolo de Mirón é a mais célebre das estátuas atléticas. Segundo pesquisa: "...o corpo revela um cuidadoso estudo de todos os movimentos musculares, tendões e ossos que fazem parte da ação; as pernas, os braços e o tronco inclinam-se para imprimir maior impulso ao golpe; o rosto não parece contorcido pelo esforço, mas calmo e confiante na vitória"(...).


Peculiaridades desta célebre escultura

Significado do Termo: Atleta que arressava o disco nos jogos esportivos da Grécia antiga (HOUAISS, 2001). Estátua grega de bronze esculpida por Miron no século V a. C. de um atleta pronto para lançar o disco. É uma das mais célebres obras clássicas e sobrevive apenas em algumas réplicas Romanas. Foi exaustivamente copiado no Neoclassicismo (HOUAISS, 2001). Encontra-se atualmente no Museo Nazionale Romano em Roma, Itália.

Conceito: É a representação ideal de um atleta. Capta a natureza do movimento como se tratasse de uma fotografia instantânea. A detalhada descrição da musculatura revela grande conhecimento da anatomia masculina. O rosto é inexpressivo e ideal, sem revelar o esforço do lançamento.

Autor: Mirón (490-430 a.C.), escultor grego nacido em Eleutera. Trabalhou, principalmente, com o bronze.

Periodo-estilo: Periodo clássico da arte grega estilo realístico.

Contexto: Viveu no período de máximo esplendor de Atenas, em que a cidade encabeçava a aliança militar da liga de Delos para por fim a ameaça oriental Persa. Trabalhou na decoração da Acrópolis. O estado Ateniense gastrava muito dinheiro em obras de arte, fato que conferia muito prestígio a cidade. Estas esculturas eram feitas para homenagear os vencedores dos jogos atléticos, mas não possuiam semelhança com o homenageado, pois os artístas deste período tratavam de retratar a beleza ideal em suas obras.

O arremesso do disco
Criada na Grécia mitológica, é considerada a mais antiga prova de arremesso do atletismo. Supõem-se que os primeiros discos eram de pedra e não tinham o formato atual, ou seja, os implementos vêm sofrendo aperfeiçoamentos através dos tempos até alcançarem o formato circular de hoje. Esse esporte tornou-se bastante popular na Grécia antiga (inclusive levando vários artistas daquela época a estudá-lo), presumi-se devido a variedade de posições que o corpo adotava durante o arremesso. Foram criadas várias obras de arte fundamentais, entre as quais: os discóbolos de Alcamenes e Miron, além de outros anônimos (FERNANDES, 1978, p. 77).




terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pedagogia da performance

Qual a relação entre imitação e aprendizagem? Somos imitadores desde a primeira infância. Imita-se para se aprender. E ao contrário do que possa parecer a imitação é um preparatório para emancipações e criatividade. Ela fornece elementos de exploração que devidamente trabalhados abrem o caminho para a diversidade. O que difere o conceito entre adultos e crianças é que o adulto já adquiriu sua bagagem cultural e pode pensar , julgar sobre a causa e a finalidade do que imita. A criança em sua construção de mundo por sua vez tem pela falta de um um julgamento mais rigoroso a possibilidade de uma experimentação maior sobre o que imita. É portanto a criança mais livre no sentido de significar seu movimento a partir de sua vivência. Ela aprende, o adulto re-aprende e por vezes julga-se sabedor do que sequer aprendeu de fato. Isso mina a experiência. Nosso corpo traz em cada célula uma linha de nossa história. O ser humano é performático. Sua essência e sua ação ora se unem, ora se revezam na construção dos significados. Tudo passa a existir se tudo significar. Assim a pedagogia , bem como a pedagogia do movimento são artes performáticas. E todo processo ensino-aprendizagem segue nossa natureza de imitadores. Basta ver  que uma aula é uma prática de imitação, nós copiamos as ações de nossos professores. Estes formados e refinados , já com seus movimentos significados ou com resignificações. Ser educador contudo, não é inspirar imitação. É propor através da performance uma atitude questionadora e de valoração. Estender a imitação, criar fase, vínculos ou mesmo teorizações acerca do prolongamento de repetições copiativas é escravizador e várias ideologias se usam disso para cercar seus membros ou  recrutá-los. Haja visto os comerciais televisivos e a publicidade. Não há como ser um expert em uma área sem performance contextual ou intertextual até. Isso faz repensar a relação entre a beleza e a verdade. O belo nem sempre verdadeiro, é sempre agradável. Tive uma colega de classe linda. Coxas torneadas, bubum durinho, seios empinados, curvas e curvas para as  derrapagens masculinas. Mas em ação... que negação. A moça que parecia estar em plena forma, carecia de elasticidade, flexibilidade, força, ritmo... atributos indispensáveis às donzelas guerreiras da E. Física. Um explo apenas da complexa relação entre beleza e verdade. Aliás ela começou a dar aulas em academia por causa da beleza. Mesmo sem nenhuma formação ou competência. Essa contraria a pedagogia da performance e instaura a pedagogia da aparência. Ela ensina porque é bela. Em se tratando de performance na educação isso não parece preocupação da maioria dos professores. Há discursos dominantes inclusive sobre a importância da performance na didática. É engraçado uma professora de ginástica geral e olímpica, não ter vivência e proficiência na prática embora tenha formação e didática( saber ensinar o exercício é o mais importante). Muito engraçado é ela ser espelho dessa aluna por explo: estar aparentemente em forma e sofrer muito dando aulas. Isso é observável porque imitar alguém não é segui-lo cegamente. É notar nossas limitações pela limitação do outro. E nossas capacidades pelas capacidades do outro. A relação eu-outro mediará a introspecção, a auto-descoberta e conhecimento de nossos próprios limites. Até onde estamos imitando? Até onde estamos aprendendo? A nossa performance é nossa ação, atuação, interação. O que fazemos nos ensina, ensina os outros e, diz quem somos.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Quem é quem?


A palavra marionete vem de marion, diminuitivo de marie, pequena figura de madeira ou papelão. O teatro de marionetes está presente em muitas culturas antigas de modo que não é possível precisar o seu começo enquanto atividade recreativa. No nordeste brasileiro ele se popularizou e se adaptou às comemorações regionais através dos artistas itinerantes, os mambembes recebendo nessa roupagem o nome de mamulengo.
Segundo a Wikipédia : "Boneco de fio" ou "marioneta" (em Portugal), "marionete" ou "fantoche" (no Brasil), origina-se do termo marionette [do francês]. Boneco (pessoa, animal ou objeto animado) movido por meio de cordéis manipulados por pessoa oculta atrás de uma tela, em um palco em miniatura. Constitui-se numa forma de entretenimento para adultos e crianças.
Esse modo de encenar a realidade e a fantasia empresta seus elementos constituintes para uma pequena reflexão aqui baseada numa das capas da obra de João Paulo Subirá Medina ( A Educação Física Cuida do Corpo e " Mente "):
Bonecos animados por alguém com uma intenção. A de contar através deles uma história.
Há a cenografia que é o espaço onde vivemos. Há os fios que nos prendem: nossas relações. Os bonecos: nós. A história: a que contamos. Cada um tem sua atuação garantida nesse teatro. O que ocorre é que o teatro é uma representação que se não recreativa é alienante. Nós temos uma educação que não nos ensinou a sermos platéia. Não temos o hábito da  observação, preferimos a ação. Submersos na ação ainda que irrefletidamente. Tomamos parte num teatro onde não somos sequer atores e sim figuras que emprestam suas existências aos verdadeiros atores. Não escrevemos nossa história embora contada através de nós é dada como posse. Somos por uns fios deterministas presos e manipulados pelos inventores da verdade. De um modo muito cuidadoso é nos dada uma certa identidade imutável (assim parece) por ser comum. A aceitação nos torna próximos sob o rótulo de comunidade, várias marionetes interagem reforçando a teia do controle psicossocial. Também a platéia , por ser tomada de uma consciência crítica não escapa dos efeitos dessa manipulação de bonecos. Ela é afetada para e por assistir. Assim como os atores interpretantes também são afetados para representar. Todos representam o tempo todo e seus seres fragmentados em mentes, corpos e disfunções são passatempos dos donos do poder. Esses não manipulam os bonecos e nem os assistem. Apenas colhem os efeitos de sua criação condicionadora. Estão nas crenças religiosas, sistemas políticos e ideologias, todos embutidos com o consumismo que tem dado o ilusório sentido da vida ao homem. Nesse  teatro as coisas só passam a fazer sentido quando decidimos por nós mesmos como escreveremos nossa história. E começamos perguntando: _Quem sou eu? Existe nós? Quem é quem?