segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Significar

Há no ser humano uma vontade de significar. Significar implica em ser admirado, ter atenção, receber algum tipo de exclusividade que o faça sentir-se único. O ser humano, cada ser humano é mesmo único. Afastado dessa compreensão ele se embrenha em buscar coisas e comportamentos que o justifiquem neste mundo nosso. Ele busca uma identidade, uma verdade talvez imperecíveis, imutáveis mesmo ele sendo a metamorfose ambulante e finito. Morremos. Queremos ser notados, participarmos, estarmos presentes. Ora nossa fronteira se confunde em picos nebulosos da pele e da consciência. Não vemos pois, uma consciência nua, nem uma pele consciente. Queremos algo mais dentro e fora de nós. Algo que nos faça seguros. Que nos alimente o sonho de eternidade. Algo que descreia do tempo e das rugas que nos marcam o rosto. Há regiões do corpo em que a atenção deixa de chegar. O sangue deixa de circular por elas. A vitalidade cede. Como significar? Como ser especial sem alternar entre parâmetros individuais e sociais? Como ser sem ter para ser? O paradigma ser-ter. Onde um se afunila outro se alarga, o equilíbrio quase sempre é distante. Ser a partir de eu mesmo e do outro e juntos gerarmos um outro ser com significado distinto pessoal para ambos e para o mundo é o fio por onde a rede vital começa. Ser autêntico numa sociedade que valoriza e se estabelece por padrões é ir contra a corrente. Os valores vigentes nos enquadram. Já está dito como devemos ser. Nossas escolhas são opções que parecem nossas. Talvez nada seja o que parece ser. Parecer não é ser.
Significar é um querer ser mais. Ser mais o quê? Ser mais para quem? Ser mais para quê? Se tudo é efêmero como se manter nesse significado? Talvez a maior carência do ser humano seja a carência de significado. É por onde ele adoece somatizando desesperado a busca de si mesmo. Adoece, perde-se ainda mais pois não há o que buscar. Há que ser. É das mais herculíneas missões: o ser ser o que é. Mas ser também é um desafio quando se apresenta a inteligência como capacidade de adaptação. Nossa capacidade de mudar quando não fundamentada num ego pouco atuante nos faz joguetes nas mãos alheias. A liberdade de significar o que se escolhe eis o viés. Mas será que no caminho eleito haverá liberdades? Traçar a estratégia antes da batalha é imprescindível para o êxito. Mexer nas possibilidades do tabuleiro, colocar-se como o observador e avaliador de si mesmo antes de qualquer coisa. Que riscos valem a pena correr? Que vida se quer viver? Com quem se quer viver? Qual o tipo de relação: guerra ou paz? Prazer ou dor? Certeza ou incerteza? Amor ou desamor?O que a verdade em sua transitoriedade é? É difícil acreditar que o mundo exista a partir de cada um de nós e que por isso somos todos interdependentes e realizadores do universo. É difícil ver nobreza, caráter, virtudes despretenciosas com tanto poder nos atiçando os sentidos. O sentido do significado é o que nos olha pela nossa própria compreensão. Somos o primeiro e decisivo passo ao significado de nossas vidas. Se queremos como observou Confúcio reformar o mundo , temos que primeiro dar três voltas dentro nossa própria casa, seja ela o ambiente próximo ou nosso próprio ser.