terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Exclusão

Há muitas formas de exclusão. Lembro-me que voltava de um dia de estágio em Mauá, comunidade carente, gente sofrida. Parei na estação de trem de Sto André para tomar um café. Estava pensando sobre a nossa sorte. Que não é má, talvez faltosa. Como eu gostaria de levar uma melhoria significativa àquelas pessoas...como eu gostaria de mudar minha própria situação. Minha motivação na Educação Física é uma esperança. Dias melhores para todos. Dias de oportunidades. Estava viajando para um futuro próximo quando fui tocado : _ "tiu, me paga um café?". Perguntei o nome do meu mais novo amigo de 7 anos e pedi um café no capricho para ele. Ele me falou um pouco de sua vida na rua, e me veio a comunidade onde eu estagiara e como tudo se torna uma extensão das pessoas. As ruas têm nossos rostos. Eis as placas com os nomes. Ao término do café me despedi e disse que além de um prazer estar com ele desejava-lhe boa sorte. _Sorte!"Eu tenho muita sorte". E com um sorriso sujo e feliz, com aquelas falhas nos dentes típicas de crianças levadas meu pequeno amigo partiu. Saiu correndo entre a multidão mas não desapareceu de minha lembrança. Quando ele disse que tinha muita sorte, tive que me conter para não chorar na frente dele. Aí bate uma revolta. Há saqueadores que roubam o futuro. Muita gente com tanta " sorte " não reconhece a sorte que tem. Não vê a possibilidade de inclusão, de compartilhar o sucesso, a afetividade, o conhecimento. O discurso hipócrita de tirar a criança da rua, as assistências que se enriquecem prestando esse serviço...eles dão a fome para a sociedade e depois vendem a comida. É assim que funciona, cada ong, cada projeto, com o financiamento, a doação, a colaboração são véus para interesses particulares de seus criadores, mantenedores, diretores. A ong e o projeto tiram da sociedade que serve a mobilização. É assim: eles se mobilizam para te mobilizar, mas na verdade você não se mobiliza. Você paga, doa, entrega algum bem material ou não. É o sistema. Máfias e máfias. Os beneficiários do discurso da intervenção social são esses caras aí...que vão para a rua fazer média, aparecer na imprensa, dar entrevistas recheadas de pesquisas e citações. Uma bosta muito fedida no seu caminho, no meu caminho cidadão. Corruptos bem educados e com seus esquemas de enriquecimento cobertos por poderes acima e desconhecimento da população. Precisamos de informação séria e não superficial sobre os nossos direitos e o que está sendo feito com nossas contribuições. " Vamos tirar a criançada da rua". A rua é das e para as crianças. Se na cidade grande ela é dos carros e não das brincadeiras, os carros que cedam.
O que é a rua? A rua é moradia. Não há espaço mais democrático do que a rua. Por que tirar as crianças da rua? Porque a rua foi dada aos traficantes, aos bandidos, virou gaiola para cobaias que são usadas por instituições. O povo saiu da rua. A rua não mais é o palco das manifestações populares. A rua é entre a calçada da polícia e a calçada do bandido. E o tráfego, o congestionamento é de pequenos, pequenos futuros. Lamentável. Para ir para a rua que é sinônimo de podridão em casa a criança teria que sofrer muito. E sofre. Sofre principalmente pela falta de educação dos adultos.
O ser humano não reconhece as carências do essencial. Crê que o essencial é ser alguém importante em vez de alguém que se importa. Ele se exclui e depois aos outros. Começa na infância. Se o futuro do país são as crianças, como estamos tratando os pequenos? Como estamos tratando o futuro agora? Preocupante.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O que você espera de você?

Valor. Essa é palavra de hoje. Mas não é o que você valoriza que se constitui um valor. É a forma de valorizar, o reconhecimento. O que é importante para você é a importância que você dá a você mesmo. Se você acha que é importante ter um carro, o carro não é importante, é você que importa, você que se sentirá de alguma forma realizado com o objeto. O que você espera de você então? Como tem buscado seu valor? Como você se realiza? Observando, nós não nos realizamos, realizam-nos. "Estou realizado com isto"."Esta pessoa me realiza"-são lugares comuns de nossa realização. Há vida fora do óbvio! Podemos nos realizar , encontrando nosso verdadeiro valor. Não o que dizem que é , mas que sentimos que é e assumimos corajosamente frente à vida que não temos preço, temos valor. Ainda que matematicamente se diga que preço é uma medida de valor, e que tudo se troca, que todos temos um correspondente direto nos marcando e esse correspondente é o nosso valor ditado pela sociedade, nosso valor de fato talvez seja ínfimo. Apequenados pelo consumismo acabamos por acreditar que valemos o que temos. A vida é então adquirir bens, importâncias. Assim buscamos coisas que nos digam que somos importantes, amamos as pessoas que nos fazem especiais, diferentes e que nos valorizam. Compramos objetos e pensamos como objetos valiosos. Objetos animados e inanimados que se trocam.Tem gente achando que é coisa e tratando coisa melhor que gente. Ô mundo confuso!

Não sabemos quando fazemos por nós ou pelos outros. Não sabemos quando usamos os outros por nós ou nos deixamos usar para algum benefício. O que tem valor? De onde essa sentença vem? As coisas, as relações nascem com valor? Isso faz pensar que quando chegamos nesse mundo tudo estava pronto, a gente entra que nem leite na caixinha. A idéia de amor, de dinheiro, de troca, de família é a mesma com variáveis em todas as culturas. O ser é humano. Evolui e repete, evolui e repete...não sai do lugar apesar das conquistas. Esteja você onde estiver, saiba que os outros esperam alguma coisa de você. Mas saiba sabendo o que você espera de você. Isso é a diferença!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Temas transversais

Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo são os temas transversais abordados pelos PCN- Parâmetros Curriculares Nacionais.Transversais porque cruzam os diversos conteúdos, ou seja tornam-se comuns a todos eles. Assim as várias matérias abordam dentro de seus conteúdos os assuntos, as reflexões tão importantes ao cidadão que não poderiam faltar a escola. Se a Educação Física quer que esse cidadão se forme através do movimento também, não deixa de se perguntar sobre como fazê-lo dentro de seus conteúdos. É uma forma de trazer a realidade para dentro da escola e levar a escola para a realidade fora dela. Temas transversais não são problemas sociais que o governo e a sociedade não conseguiram resolver como já foi conceituado. Segundo o dicionário online tema: proposição-s. m., assunto que se quer provar ou desenvolver; proposição; exercício escolar para retroversão ou análise. E transversal:adj. 2 gén., que passa ou que está de través; colateral. Mas aí surgiria o contexto, de repente os problemas sociais se insiram. Sim. Porém temas transversais não abordam problemas em si. Abordam formas de conhecimentos que podem amenizar os problemas sociais fornecendo aos alunos um instrumental maior para exercerem a cidadania com consciência. Lembrando um belíssimo capitular do livro Educação Física Cuida do Corpo... E "Mente" de autoria de João Paulo Subirá Medina: A miséria do mundo: uma miséria das consciências. É mesmo. Nossas consciências miseráveis é que geram essa miséria mundial... soa platônico nos remetendo que a existência do mundo real parte do mundo ideal...tudo existe primeiro no mundo das idéias. Mas retornando à obra do João Paulo Medina, que nosso professor de metodologia e prática do ensino fala toda santa aula , ele define ( ele não aprecia conceitos), ele diz: " a consciência só pode ser interpretada como uma manifestação mental na medida em que esta, em última análise , seja entendida como manifestação somática". Como canta o Teatro Mágico porque é que a gente não junta tudo numa coisa só? Xô dicotomia! Sendo a consciência entendida como percepção de um si mesmo e do mundo, os temas transversais mostram assuntos indispensáveis para uma educação atual, significativa e ampla. São muito interessantes e me atraiu o fato deles mostrarem como a diferença e a interdependência convivem. Abrem um leque de relações entre si e abriram minha mente para uma série de descobertas e reflexões.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Parar para continuar

Não há como voltar. Mas para continuar as vezes temos que parar. Parar não será tão ruim. Tempo não será perdido, mas também não será economizado. Será direcionado para aprimoramentos e outros estudos, estratégia, captação de recursos e forças. As vezes a gente só vislumbra o horizonte porque parou. Muita coisa acontece. As vezes precisamos parar para um recomeço. É difícil estar indo bem e ter que parar. É difícil estar indo mal e ter que parar. Mas não há como voltar, só como parar. Continuar não é um risco, é preciso, mas não é possível. Tudo pode parar se a vida continua. A vida é a fonte. E o que não é possível não é impossível. Impossível é a palavra impossível.

Minha mãe, minha professora

Minha mãe foi minha primeira professora. Sempre em nossas conversas lembramos dos anos em que ela lecionou numa escola rural de nossa cidadezinha. Ela foi a primeira pessoa a dizer que eu devia sair mais cedo da lavoura para ir para a aula de Educação Física. Essas aulas de forma cruel aconteciam às terças e quintas nas três horas da tarde. Então as duas horas meu pai me liberava e eu descia prazerosamente numa corrida, as trilhas que saíam em estradas que me levavam para a aula. Havia sempre beleza nos meus caminhos. Paisagens que me faziam parar ainda hoje reavivam minhas lembranças. Dizia que aquelas aulas eram para meu desenvolvimento. Minha doce mãe, minha professora foi daquelas mães de deixar a comida queimar no fogo para participar das nossas estripulias... minha mãe deixa saudade nas ausências mais breves. Toda vez que ela deprime não há como não deprimir junto... dias incontáveis, horas intermináveis de angústia e ansiedade pelo reestabelecimento de sua maternidade ímpar. Eu sempre gostei de encontrar ex-alunos dela. Gostava de ouvir deles o quão ela fez diferença no processo de sua alfabetização e nas suas vidas. Aos dezessete ela tinha alunos de trinta anos e adorava essa situação pois dizia que sempre saía aprendendo mais do que ensinava. Sua carreira durou pouco, as irmãs vieram para a metrópole, ele se casou e se viu na oportunidade de mudar de profissão. Fez alguns cursos e se tornou enfermeira (tradição familiar). Mas na alma de cuidadora está latente a professora. Sempre na sabatina... sempre foi um desespero para meu pai. Exímia dançarina ensinou-me o que ela chama de "valsa verdadeira". Também me ensinou bolero e forró e falava dos bailes que seu pai o Maestro Zacarias promovia na região. Minha partner se aventurava no rock e na lambada sempre num espírito de descontração contagiante. A mãe sempre gostou de dançar." Dançar me faz esquecer até de mim"- certa vez me confidenciou. Foi uma alegria o dia em que minha avó nos iniciou no cateretê. Numa expressão toda sua a mãe de minha mãe disse: vamos tirar o saci do ninho! E eu que nem sabia que saci vivesse em ninho...vi aos sons de palmas e pés ela dançar um cateretê com muito charme. Com voz de anjo e tendo um pai Maestro cantava muito mais que músicas de ninar. Aos domingos ela era do coral da igreja. Sempre fora. Vivaz, no último casamento que fomos juntos me deu o prazer de dançarmos. Tive uma infância de muitos privilégios. Minha mãe foi minha primeira professora. Antes de ir à escola ela já se sentava comigo com um livro nas mãos. Ela brincava que eu era tão forte que podia erguê-la do chão e de maneira discreta apoiava-se nalgum móvel e se erguia dizendo:_como você é forte! Ela dizia que certas árvores eram um convite para subir. Subi à copa de muita árvores. Na minha adolescência o pomar de casa era a extensão da escola. Sob abacateiros e mangueiras fiz muitas lições. Em muitas tardes quentes ela ia ao meu encontro com um suco de couve ou uma limonada. Mas o que eu gostava era de fazer chover laranjas: convidava um incauto a colher laranjas que eu jogaria da copa. Chegando lá em cima eu chacoalhava os galhos e tome laranjada na cabeça. Minha avó vinha acudir o povo e as laranjas que se partiam de alta queda. E moer cana e café? Tudo manual. Nós torrávamos o nosso café colhido no pomar e o moíamos ora no pilão ora no moedor. Muita garapa adoçava aqueles dias também. Minha mãe muito "sábia" ensinava que socar café no pilão deixava as mãos e braços fortes. Isso era. Nossos cafés da tarde rondavam sobre fábulas e charadas. Quando me neguei a comer animais mortos, ela muito maternal me deu um livro de receitas vegetarianas que guardo até hoje. E ainda hoje ela pergunta: _nem um peixinho?_Não minha mãe mas fique à vontade... Lembranças felizes da infância não me faltam. Tive uma infância feliz e nobre. Em muitas de nossas conversas seu tempo escolar de aluna e professora deixavam-na orgulhosa. Sempre participativa quando não doente, ela adorava jograis, dramatizações, danças, jogos... era como se por ter cinco filhos ela fosse cinco mães. Estava em tudo e com todos, com o mesmo carinho e orgulho. Nossa casa sempre foi cheia de música e dança. Que não tenha sido nossa última dança. Muitos bailes nos esperam e eu tenho muito para aprender.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Significar

Há no ser humano uma vontade de significar. Significar implica em ser admirado, ter atenção, receber algum tipo de exclusividade que o faça sentir-se único. O ser humano, cada ser humano é mesmo único. Afastado dessa compreensão ele se embrenha em buscar coisas e comportamentos que o justifiquem neste mundo nosso. Ele busca uma identidade, uma verdade talvez imperecíveis, imutáveis mesmo ele sendo a metamorfose ambulante e finito. Morremos. Queremos ser notados, participarmos, estarmos presentes. Ora nossa fronteira se confunde em picos nebulosos da pele e da consciência. Não vemos pois, uma consciência nua, nem uma pele consciente. Queremos algo mais dentro e fora de nós. Algo que nos faça seguros. Que nos alimente o sonho de eternidade. Algo que descreia do tempo e das rugas que nos marcam o rosto. Há regiões do corpo em que a atenção deixa de chegar. O sangue deixa de circular por elas. A vitalidade cede. Como significar? Como ser especial sem alternar entre parâmetros individuais e sociais? Como ser sem ter para ser? O paradigma ser-ter. Onde um se afunila outro se alarga, o equilíbrio quase sempre é distante. Ser a partir de eu mesmo e do outro e juntos gerarmos um outro ser com significado distinto pessoal para ambos e para o mundo é o fio por onde a rede vital começa. Ser autêntico numa sociedade que valoriza e se estabelece por padrões é ir contra a corrente. Os valores vigentes nos enquadram. Já está dito como devemos ser. Nossas escolhas são opções que parecem nossas. Talvez nada seja o que parece ser. Parecer não é ser.
Significar é um querer ser mais. Ser mais o quê? Ser mais para quem? Ser mais para quê? Se tudo é efêmero como se manter nesse significado? Talvez a maior carência do ser humano seja a carência de significado. É por onde ele adoece somatizando desesperado a busca de si mesmo. Adoece, perde-se ainda mais pois não há o que buscar. Há que ser. É das mais herculíneas missões: o ser ser o que é. Mas ser também é um desafio quando se apresenta a inteligência como capacidade de adaptação. Nossa capacidade de mudar quando não fundamentada num ego pouco atuante nos faz joguetes nas mãos alheias. A liberdade de significar o que se escolhe eis o viés. Mas será que no caminho eleito haverá liberdades? Traçar a estratégia antes da batalha é imprescindível para o êxito. Mexer nas possibilidades do tabuleiro, colocar-se como o observador e avaliador de si mesmo antes de qualquer coisa. Que riscos valem a pena correr? Que vida se quer viver? Com quem se quer viver? Qual o tipo de relação: guerra ou paz? Prazer ou dor? Certeza ou incerteza? Amor ou desamor?O que a verdade em sua transitoriedade é? É difícil acreditar que o mundo exista a partir de cada um de nós e que por isso somos todos interdependentes e realizadores do universo. É difícil ver nobreza, caráter, virtudes despretenciosas com tanto poder nos atiçando os sentidos. O sentido do significado é o que nos olha pela nossa própria compreensão. Somos o primeiro e decisivo passo ao significado de nossas vidas. Se queremos como observou Confúcio reformar o mundo , temos que primeiro dar três voltas dentro nossa própria casa, seja ela o ambiente próximo ou nosso próprio ser.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A droga e o futebol

" *Drogas são substâncias utilizadas para produzir alterações, mudanças, nas sensações, no grau de consciência e no estado emocional. As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com as características da pessoa que as usa, qual droga é utilizada e em que quantidade, o efeito que se espera da droga e as circunstâncias em que é consumida. " Diz a lenda que essa substância, o futebol, foi trazida ao Brasil em 1894 por Charles Miller e se alastrou virulenta desde seus primórdios. Estudos numa tentativa de justificar alguma simpatia e amor ao esporte apontam que a violência está fora dele, embora se manifeste através dele. É dito que dentro dos estádios pode-se vivenciar emoções e situações de igualdade que não se encontra em nenhum outro lugar por essa sociedade ser repressora e discriminatória. Futebol é uma indústria que aliada à mídia promove um tipo de consumo. O consumo do ser humano, a matéria - prima humana. Como em outras modalidades relações econômicas definem os jogos, o campeonato. Empresas vêem oportunidade de negócios. Máfias também. A supervalorização dos atletas profissionais, que quando são vendidos são chamados de " passe" , é discrepante muitas vezes com a origem humilde de muitos deles. Isso infla o coração da garotada de sonhos. Ser profissional é igual ao sucesso: dinheiro, fama, luxos. Quem não quer?

O público pagante é que garante. Consumindo tudo o que leva o emblema do time o povo "futebolado" vai esquecendo as crises tendo no esporte a anestesia para a realidade que constrói e acusa de dura. Como viciados eles se matam e promovem a criminalidade. 90 minutos de alterações sensoriais, de emoções que só cevado desde a tenra idade para se sentir. Observando os efeitos do futebol nas pessoas e na sociedade, ele só é comparável à drogas. Em todo seu efeito deletério o útilmo esporte a representar a humanidade é justamente o que a une em torno de 22 jogadores e uma bola. Futebol é mesmo uma droga.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

A dança sem a coreografia

Se é a música que eu gosto, danço! Não há forma melhor de demonstrar gosto ou sentimento do que se mover no sentido daquilo que se gosta ou se sente. Mais que demonstrar, deixar-se permeável pelo momento e expressar a si mesmo de uma forma autêntica e vivificante. A dança é poderosa. Fascinante enquanto forma de comunicação e expressão. Há um mito que a dança se contrói a partir da música. Mito que desmoronou quando vi surdos dançando ao toque de rajadas de vento, pressão de ar e de mãos sobre seus corpos. Talvez possa chamar de música o ritmo impresso pela cinestesia, pelo toque levante e acolhedor de um corpo amigo. Isso criou em mim um interesse pelo lado secreto da dança, o lado de dentro do dançarino. O que ele sente? O que a música leva para ele? Ele se expressa? Ou alguma ideologia se expressa através dele? Penso nos vários estilos e formas de danças. Desde um ballet contemporâneo até as danças circulares tiram de mim brilhos de admiração. Como o ser humano pode ser tão versátil? E como essa versatilidade convive com tanta limitação, pobreza e exclusão? Cada dança tem seu propósito. Certa vez estive envolvido com coreografias de dança do ventre e me deparei com diversas subdivisões e modalidades dentro dessa que parecia vista de longe ser uma modalidade de dança a mais. Ledo engano. Fascinado em pesquisar movimentos de luta e dança notei algo ligado nelas , um grude ancestral: a coreografia. Quando se dança a dança sempre é coreografada. Ou seja, seus movimentos são encadeados harmoniosamente dentro de um contexto. Então lanço uma reflexão a partir da coreografia: como a dança pode ser expressão de liberdade presa a coreografias montadas por alguém com um propósito específico? Nas festas, comemorações sempre tem alguém puxando uma coreografia copiada por todos, que se satisfazem plenamente se copiarem direitinho. Nas lutas a coreografia recebe o nome de forma e tem o sentido de fôrma. Quanto mais repetida a forma, mais rica em detalhes será a prática da luta, posto que, nas formas estão codificados ensinamentos em forma de movimento. Ou seja a coreografia nas lutas segue uma tradição , preserva sua acenstralidade como forma de resguardar conhecimentos. Daí as ditas formas tradicionais serem tão importantes para o correto aprendizado das artes marciais. Na dança também há tradições que remontam rituais de várias culturas, crenças e celebrações de toda ordem sendo uma linguagem passada de geração à geração pelo gestual através de músicas e movimentos significativos para cada época e cada sociedade. Temos hoje um repertório riquíssimo de conhecimentos a partir da dança. Uma herança cultural que não pode ser diminuída pela repetição, pela ação sem reflexão. O repetir , a padronização dos movimentos, a massificação do gestual sem se saber o porquê e o para quê fazem com que a dança seja vista como atividade física, expressão da sensualidade e extravasamento emocional. Tudo setorizado por um tipo de música conveniente à mensagem coreográfica. Esse apego às coreografias, tão limitantes da criatividade atualmente, mostra o baile nas nossas cabeças com nossos pensamentos devidamente coreografados. Isto posto, experimento uma dança livre, com seus movimentos ancestrais, porém com propósitos nobres de elevação do ser humano. Nada de coreografia. Coreografar é simplificar. É possível malhar o corpo pela dança. Arejar pela dança. Há um aspecto da coreografia que deve ser exaltado: é uma referência para a liberdade e criatividade. Pode ser um livro feito de movimentos a ser consultado como dicionário, donde se tira além das formas o significado para a criação. O velho caminho precisa ser conhecido antes que se percorra os novos, afinal. Mas mesmo os modelos precisam ser descartados, encarados como meios e não fins em si mesmos.
O corpo precisa de umas complexidades, umas questões a serem resolvidas com movimentos. O corpo precisa ser criativo! Chega de padrão, repetição, imitação! Dança sim, coreografia...não. Dançar é um prazer. Que prazer se faz sem liberdade?

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O professor, o ser humano

Temos uma idéia de que quem professa sabe. Daí associarmos o professor ao reservatório de conhecimento, a fonte da qual bebemos é comum. Porém descaracterizamos nesse ponto de vista a dimensão humana do professor. Suas falhas, seus medos, suas inseguranças tudo fica nos bastidores, a cena é o ensino. E o pior é que justamente sua formação humana, seu caráter, sua disciplina é que irão junto à sua formação acadêmica influenciar sua pedagogia. Temos então um professor que pode ser " legal", " descolado", e incompetente. Ou um professor competente, "chato" , " sem carisma". O equilíbrio é distante. Poucos conseguem nesse mundo que foge aos detalhes inspirar nos alunos a vontade de ser professor. Com relações descompromissadas eles passam anos lecionando o que não aplicam em suas próprias vidas. Não sabem o valor que têm. Talvez seja essa a maior causa da desvalorização do professor: ele mesmo não se valoriza. Ele não cultiva nem dissemina, não vivencia seus valores.
Ele não investe no seu desenvolvimento humano. Alguns embora ganhem, chegam a pensar que ensinam por caridade...coitada dessa gente sem cultura. Realmente a indignação é uma motivação para muitos. Ambígua como tudo na vida, também desmotiva. Há professores que semeiam e espalham essa desmotivação. Atolados como todo ser humano em seus problemas pessoais eles não sabem diferenciar nem vincular o profissional do não-profissional. Se a evasão escolar é triste, é triste também o absenteísmo dos profissionais da escola. Pior é o motivo para tal: "saco cheio". Eles se esquecem que estão na profissão por opção deles. Levam suas classes literalmente nas coxas. Apenas passam a matéria. Deveriam ir além e passar também o espírito.
Mas são humanos. Humanos erram. Humanos perdoam. Humanos aprendem. É lamentável ter ouvido de uma professora que não estava afim de dar aulas, e que se a turma fosse embora ninguém levaria falta. A professora é humana e humanos se cansam...até as máquinas se desgatastam.
A turma comemorou num bar próximo da faculdade, outros foram embora com incentivo altamente educador dessa aula faltosa em que havia professor e alunos. É, faltou a aula. Ela é que não veio... o povo estava lá. De tudo fica a lição: é professor mas é humano.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Corpolatria

O que é corpolatria?

Todos já temos uma idéia do que seja o culto ao corpo. Corpolatria. Esse neologismo surgiu com Wilson Senne e Wanderley Codo autores de um livro em que abordam o tema de que passa da cultura para culto ao corpo(O que é Corpolatria?). O culto ao corpo numa comparação com o sistema religioso.
Tudo o que o corpo gera pode escravizá-lo. O imediatismo, o salvacionismo e a perdição de nossas vidas está representada na nossa relação com o próprio corpo. O corpo exige milagres, sacrifícios, templos, e cultos. É o deus corpo. É um deus que castiga. Que pune com a doença, com a forma, com a insatisfação. O corpo domina a mente. É mais elevado e tem pelas modernas técnicas tentado se manter jovem e saudável a ponto de brigar com o tempo. Se utilizarmos como parâmetro o dualismo psicofísico poderíamos constatar que no mundo contemporâneo a mente está mesmo submissa ao corpo. Todas as formas de consumo e produção visam confortos, necessidades e carências do corpo. A mente fica apenas como sensação e percepção no usufruto das escolhas e apetites corporais. Presente, age apenas confirmando os pedidos do corpo como uma mãe mimando o filho sem saber onde os mimos terminarão. A mente ama o corpo. Devota-se a ele. Vicia-se nele. Fecha-se nele numa solidão. Outros corpos são no máximo para satisfazê-lo. A mente é escrava do corpo. Trabalha para ele. O conceito “Corpolatria” é uma análise da alienação a partir do corpo. Se na Educação Física nos propomos a ajudar a partir do corpo, tomamos consciência de que um trabalho mal feito pode sim terminar como uma doença a partir do corpo. A mente é descartada. Aparece apenas nos tratamentos psiquiátricos, psicológicos e na medicina alternativa. Lembrando Juvenal : corpo são em mente sã. Hoje seria mente insana em corpo doente. Hoje seria o homem doente em corpo e mente. E se aqui faço uso do dual para apontar as dimensões do homem, reforço minha concepção de que mente e corpo não se separam e não se opõem. São totalidade. O corpo é objeto da ciência e da religião. A ciência que estranhamente não encontrou uma solução para a fome mundial, a religião que faz o homem ter o prazer corporal como pecado e transgressão não são ao meu ver boas referências para se conhecer o corpo. A intuição, a vivência corporal sadia, a própria individualidade, essas sim podem ser bons observatórios. Por que a razão pode dizer que você tem um corpo. Mas sentido um perfume trazido pela brisa, vendo a claridade do dia no sol e dançar com alguém por quem se é apaixonado...tudo isso diz enfaticamente : você é esse corpo. E muito além desse corpo. É uma única identidade. Não é uma coisa. Suas relações são impregnadas de e por valores. Como estudante da Educação Física noto que o corpo precisa ser reumanizado , o corpo precisa ser deixado dessas concepções que o dividem e o distanciam de si próprio. Não é um deus nem coisa, o corpo é humano.
Pouco se tem encontrado a concepção do ser integral. O ser que não é dual. Mas alguém me diga onde é o órgão da mente e onde é a mente de cada órgão. Não há duas coisas separadas ou unidas. O ser humano é único. Embora se manifeste em diversas dimensões é o mesmo ser.
Hoje as pessoas entregam seus corpos sem reflexão. É o corpo sem dono, o corpo que se torna o dono do ser. É o corpo armadilha, é o corpo-problema. E nisso surgem soluções: você não resolve, mas isso resolve: próteses, lipo-esculturas, plásticas, anabolizantes, anfetaminas, e tantos outros comportamentos compulsivos em busca do corpo ideal. Tudo comprado pela imagem de corpo vendida. O corpo ideal é gerado e mantido pelas relações de produção e consumo através da mídia. A propaganda explora o corpo. O entretenimento explora o corpo. Toda relação tem explorado o corpo que se busca nesse ideal imposto. O corpo adoece: está obeso, anoréxico, bulímico, compulsivo por comida, por sexo, por jogo, por drogas, por movimento e consumo. Vigorexia, ortorexia...o corpo é um transtorno na vida gente. Estamos nos deseducando, desumanizando-nos através do corpo. Nossa felicidade tem se limitada pela atual concepção capitalista de corpo. O culto ao corpo traz uma mensagem de preconceito. Traz uma mensagem de não-aceitação. As pessoas se violentam com sentimentos de desprezo por si mesmas. O amor – próprio tem sido o amor à idéia do que o próprio corpo deveria ser. Apego ao ideal tem sido o amar o corpo. O corpo está confuso. Ele não sabe pelo quê está sendo amado. E que amor é esse? Também é fato que o corpo é um bem de consumo na vitrine social. Os corpos vendem, são vendidos.Tudo parece fomentar a Corpolatria. Será que o corpo é o nosso último deus? Um corpo que nasce em forma humana, e cresce, e vive e morre como humano. E o ser humano que nasce em forma de corpo, e cresce, e vive e morre como corpo. O corpo tem sido um esquecimento de si mesmo no além do corpo. É no corpo que se traduz e se expressa a busca pela identidade, pelo lugar, pela meta, pela felicidade...pela vida. Cuidemo-nos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Ginástica Artística

Popularizada no Brasil com o nome de Ginástica Olímpica, sem dúvida é uma modalidade que vem crescendo muito graças ao desempenho de meninas e meninos de ouro e à beleza que é em si mesma. O domínio motor em situações não convencionais é o chamariz, é o que desperta nossa curiosidade e admiração. Adoramos tudo o que desafia a gravidade. Há um quê de coragem e ousadia nas apresentações e competições que mexe muito conosco. A força, a flexibilidade , a agilidade, o equilíbrio são capacidades físicas que promovem um belo espetáculo e que nos leva à dimensões mais íntimas. Quem não deseja mais força? Quem não quer mais flexibilidade? E equilíbrio, quem não o quer? O corpo comunica os anseios da alma. Ele realiza em si muito das projeções que vão do imaginário ao pensamento mais comum. Nisso várias artes que têm no corpo o primeiro instrumento concordam: o pensamento e o sentimento se representam como corpo. Geralmente o descuidado com ele revela um descuidado com a mente. Oposto igual: cuidando-se da mente, acaba-se por cuidar do corpo. A ginástica artística é uma forma de arte com o corpo que tem em suas técnicas além da plasticidade o mérito de possuir um processo pedagógico maleável e de grande competência no trabalho com as habilidades motoras. Sua origem remonta a preparação militar. Foi sistematizada ao longo dos anos de modo a se bifurcar em práticas e aparelhos masculinos com ênfase na força e virilidade e em práticas e aparelhos femininos com ênfase em flexibilidade e graça. Pode ser ensinada como atividade física ou esporte. Como atividade ela adquire um caráter formativo, preparando, estimulando e educando os movimentos para competições ou não, como uma opção de lazer e recreação. Já no esporte possui um caráter de formação atlética com iniciação (escola de esporte), nível intermediário ( competições-regras adaptadas), e alto nível(regras oficiais).Ambas contribuem para o domínio motor, cognitivo e psico-afetivo-social. A ginástica artística embora seja um instrumento excelente ainda sofre alguns preconceitos por parte do público masculino e é desfigurada pelo mal preparo de seus profissionais. Isso fica claro frequentando-se as aulas práticas num curso de licenciatura em Educação Física. Os próprios professores da modalidade, ditos especialistas compartilham de algumas características que desagradam àqueles que querem aprender mais do que dar cambalhotas, desfigurando a modalidade. Citarei as mais chamativas:
1_ não cuidam da integridade física dos alunos.
2_ não enfatizam os preparatórios antes da prática.
3_ enfatizam que o aluno deve saber o processo pedagógico mesmo sem a vivência.
4_ dispersam ao assédio dos alunos.
5_ não falam sobre os mitos da modalidade.
6_ não falam sobre os primeiros socorros.
7_ não falam sobre os acidentes mais correntes.
8_ falam de seus próprios curriculuns.
9_ não possuem critérios de avaliação claros.
10_ desconhecem as teorias pertinentes, agregando apenas "a " por simpatia.
11_ não associam morfologicamente as áreas do corpo e os movimentos aprendidos.
12_ descrevem pouco as funções de cada movimento.
13_ confiam muito no material didático.
14_ não sabem demonstrar.
15_ ética duvidosa
16_ terrorismo pedagógico
Ainda é uma disciplina mal cuidada: suas vivências são amostragens. Os instrumentos e o espaço apesar do discurso não ficam disponíveis aos alunos. É uma atividade com certo grau de complexidade e periculosidade. Não há supervisores ou auxiliares na ausência do professor. Não há incentivo à prática. As aulas propagandeiam a especialização.
Ou seja , ginástica na faculdade paradoxalmente por falta de atividades anda..." fraquinha ".

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A inteligência é corporal

O corpo sabe e é sabedoria além de sabedor. O corpo aprende, o corpo faz. Saber fazer é a inteligência corporal. Cada gesto é um texto, um livro, um professor amigo. Vida própria e consciência própria. Com suas memórias e sonhos, emoções e imaginação, compõe-se como criador de realidades a partir de seu funcionamento. O corpo tanto se educa quanto nos educa de uma educação feita de movimentos, pelos movimentos e para os movimentos. Essa é a sua mensagem: vida, beleza e inteligência.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A cultura é corporal

O aprendizado pelo afeto

Ser professor é mesmo um sonho romãtico, saborosamente romã-tico. Fica mais prazerosa a relação aprendizagem-ensino quando há afetividade. Fica mais fácil aprender com quem a gente gosta e que gosta do que faz. Olhamo-nos com admiração e respeito quando nos encontramos pelos caminhos dos objetivos em comum. Sábio verso freiriano: “ninguém ensina ninguém, todos aprendem em comum união”.O que nos une é o afeto. O olhar, o ouvir e o tocar... Como nós trocamos energias! O sentimento reforça a atenção e a memória. A secretaria da escola da vida é o coração! Saber é saber de coração, é saber decorado, no sentido de enfeitado pelo amor. E nessa decoração de coração pelo amor é que o conhecimento vai nos transformando. Não há aprendizado sem afeto. Idem ensino. Nossas relações são afetuosas por natureza. Nossos moveres são de afetos. Não nos neguemos, pois, afetividade. E nisso a vida fica muito mais do que uma sucessão de erros e acertos. Somos humanos e fazemos escolhas. Nós não aprendemos com o erro. Aprendemos com a correção do erro - Como me disse certa vez um professor. E disso a gente só se apercebe com afeto.

O estágio

Muita gente nessa vida não atua, estagia. O estágio é uma subordinação ao estado de aprendizagem profissionalizante. Muita gente nessa vida não aprende é condicionada.
Fui ver a prática na prática: fiz o meu primeiro estágio escolar na educação básica! Fui privilegiado com uma escola excelente e seus professores mui bem preparados e amigáveis. Fiz dois amigos! Generosos em seu magistério fortaleceram em mim o desejo de me educar e de ter como viés de minha prática pedagógica a auto-educação. Nós aprendemos a partir de nossa vontade e empenho e realidade. Depois trocamos essas vontades, empenhos e realidades. Isto é educação: mais troca do que transmissão. E se auto-educar é dar aos valores corpo. É ter em si o processo, o fluir. No estágio pode-se observar, experimentar, agregar e trocar. É a teoria na prática, as vezes nem sempre. É a prática as vezes, sem teoria. Não vamos dar terreno para a dicotomia. Na pedagogia pelo movimento, estagiar é ensaio mais que rascunho. Um treino mais que exposição. É a leitura do diário do professor e de suas intervenções pedagógicas como agentes sociais, sobretudo. Li suas relações com seus alunos, colegas de outras disciplinas, e coordenação. Enfim, do que a escola significava e de seu papel dentro e fora dela. Foi muito proveitoso. Muito trabalho, muita energia, muito movimento e inteligência.
Mas é difícil estudar e trabalhar e ainda estagiar. Por força dessas circunstâncias cheguei a ter uma rotina de meses onde dormir 5h por noite era um presentão. Aulas aos sábados, tardes agradáveis graças ao coleguismo e ao nosso superprofessor de Metodologia e Prática do Ensino...O senhor Wilson e seus pimentinhas da Educação Física. E quando não aulas, AACC, atividades acadêmicas científicas e culturais nos fins de semanas. Rola um estresse e um zumbizismo com essa rotina. As vezes penso que toda essa intensidade no curso atrapalha mais que ajuda em termos de aprender. Sem contar nos rendimentos em outros setores da vida, donde a gente se ausenta. Colegas de trabalho e outros relacionamentos sofrem. E como dizia o Budha , viver ou é sofrer ou é transcender. Transcendamos. Por que além do estresse da situação, há o nosso estresse e o dos outros por nossa causa, por conta do estágio. Podemos sofrer além desde a política da escola, ameaças em vários tons vindas de nossas chefias. Isso é bem presente no estágio: ninguém verá sua dificuldade. Eles querem que você desempenhe sua função ainda que não dêem recursos para tal.
O que valida o estágio é que você foi lá aproveitou, fez, esteve de corpo e alma. Mais que assinaturas e documentos comprobatórios, a experiência e o conhecimento são impagáveis.
Vi além dos livros e de meus professores o significado da Educação Física Escolar. Vi como a escola trata um meio de educação como mera atividade, brincadeira, jogo. Sem inclusive reconhecer o valor desses conteúdos. Trata-se ainda a “matéria” EFE como aula extracurricular, um momento para o aluno extravasar, para evitar o sedentarismo, ou descansar da carteira escolar. É incapaz de ver a intervenção de professor como interdisciplinaridade e transdiciplinaridade. Por outro lado, além do discurso é inspirador ver professores engajados. Professores preocupados com a educação, aquele professor que diz para o aluno: “você é a sua vida, pense bem no que está fazendo e no que quer”. O cidadão está ali na escola, na educação básica e precisa crescer sendo tratado com cidadania.

O lúdico

Ludicidade é o uso do lúdico, ou seja da brincadeira, do brinquedo do "jogo"conforme do latim "luddus". Será? Há atividades em que se observa a brincadeira e o brinquedo sem nenhuma ludicidade e com tarefismo exacerbado. O lúdico não pode ser imposto, ele é espontâneo, não é técnica senão um elemento mais interno de uma busca de auto-realização. É uma busca e um encontro do que dá prazer, num tempo livre feito pela escolha da pessoa. Ou seja para ser lúdica uma atividade nasce de tempo livre, prazer e liberdade de escolha. Cada um faz o seu universo lúdico, tudo pode ser um brinquedo e uma brincadeira,basta-se ter a atitude, a disposição para dar essa dimensão aos brinquedos, jogos e brincadeiras. Quem faz o lúdico é cada de um de nós. Podemos criar ambientes para expressão dessa ludicidade potente em nós, e nos pequenos. Veja-se os jogos simbólicos, que através do movimento e da imaginação para a expressividade é um faz-de-conta divertido com tarefas sugeridas. Os pequenos é que na vivência contextualizarão, darão o sentido da ludicidade na atividade .Haja visto a confusão sobre o que é lazer e o que não é, para se atropelar o conceito de ludicidade. Imagine-se numa sobrecarga de trabalho num excesso viciante. Ocorre que se entra num ritmo difícil de ser quebrado. A pessoa se pára, sente-se inútil, inepta, chegando a adoecer nas férias e finais de semana... é a síndrome do lazer. Confunde-se o ócio o não querer fazer, que é necessário à saúde; com ociosidade que é o não fazer por não saber o que fazer, ou seja, ociosidade é um ócio improdutivo. Uma pausa degenerativa e inaproveitável... como assistir TV numa tarde ensolarada de domingo morando a poucos metros de centros de lazer. Estamos nos deseducando para o lazer e para o lado lúdico da vida. Olho e coração na saúde!Muita brincadeira nessa hora...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A alma pelo corpo

“Há algum estado de êxtase dentro deste corpo no qual eu possa estabelecer minha consciência?Há algum caminho místico que conduza a esse lugar?” _ Pergunta feita no Kaushitaki Upanishad, conjunto de escrituras antigas e sagradas da Índia. Temos aprendido que felicidade está ligada a coisas, prazeres e satisfações. Quase sempre estes três por vez estão ligados a algum tipo de consumo e são efêmeros. Sofremos de uma infelicidade crônica por incapacidade de transcendência. Queremos relações duráveis com coisas que não duram, ou que durarão mais que nós. Nosso corpo é a somatização dessa nossa perdição: tantos caminhos, tantos lugares...para onde ir? Onde estaremos felizes? Será que só a doença pode mostrar o valor da saúde? Será que só a prisão pode nos mostrar o que é liberdade? Só o ódio nos fará buscar pelo amor? E o nosso corpo... será que nossa existência é a existência dele ? Onde a alma se esconde dentro do corpo?Como encontrá-la? Alma é tão vago, tão abstrato. O corpo é sensível, palpável, real. O corpo cria a realidade a partir de sua existência. Sem o corpo como estaríamos aqui? Herança do dualismo psicofísico pensamos em ambos separadamente, pensar aliás já é uma ação que não sabemos se parte do corpo ou é estimulado nele por uma agência externa. Hoje pesquisas da neurociência, mostram uma consciência capaz de funcionamento independendo do funcionamento cerebral. E eu que pensava ser consciente apenas porque tinha cérebro... a ciência não provou nada ainda. O fato é que tenho pensado no corpo e na alma como uma entidade única, separados apenas por nossas idéias, ou idéias ancestrais. O caminho místico é um caminho de práticas e de vivências corporais. Somos a corporeidade da vida e o fato de sabermos nossa origem biológica tem um limite. Há um ponto que toda explicação cessa pelo caminho do corpo e da matéria orgânica. Não conseguimos avançar na dúvida. Apenas aceitá-la. Aí entram várias interpretações da realidade tendo o corpo como cálice donde a divindade bebe a alma, a alma parte para algum lugar cessado a vida do corpo. E antes do nascimento? O corpo era o gameta e a alma o que era? A partir de que momento ela se instala? Donde vem? Muita metafísica para a Educação Física. É engraçado não nos aventurarmos em conhecer o íntimo humano a partir do corpo e vermos separadamente o cuidado da mente, do corpo e da alma. Falamos numa educação integral, entretanto. Como meditante tive uma experiência mística depois de correr 10km. Cansado, deitei-me na grama e olhei para o imenso azul acima. Aí pensei isto é uma altura ou uma profundidade? Sustenho-me ou caio? Sou minha alma ou meu corpo?
Com o coração ainda acelerado, banhado de suor e com um sensação de existência espiritual indescritível numa união orgânica com a natureza ocorreu-me:
_Eu não sou uma alma que tem um corpo. Nem sou um corpo que tem uma alma. Sou uma alma que é um corpo e um corpo que é uma alma.

Formação de um professor

Títulos , prêmios e certificados atestam a formação de um profissional mais que sua própria formação. Ainda que ele não se interesse pelo que está fazendo ou o saiba, um diploma lhe dá o direito de ganhar dinheiro com sua profissão. Profissional é o que tem a profissão mais do que o que sabe exercê-la. Há muita incompetência diplomada. Há muita gente desumana fingindo que salva vidas, que educa, que faz. Mas o que fazem é podar a vontade e a chance ou é ocupar lugares de gente que realmente quer fazer. O médico finge que medica, o professor finge que ensina, o povo finge que é feliz governado por um governo que finge governar. É gente formada. É gente que tem acesso a cultura que pode democratizá-la. É gente educada que tem o como disseminar a semente de uma educação acessível e boa. O professor não pode ser formado. Ele tem que se formar. Caso contrário ele irá deformar enquanto ele mesmo deformação. Mais do que a graduação é o ter o que e como e a quem ensinar que faz nascer o professor. Quem tem a ensinar é professor por natureza. Quem ensina o que estudou ou adquiriu exteriormente, ganhando apenas dinheiro para tal, vivendo insatisfeito pelo caminho escolhido será que professa alguma coisa? Será que o aluno o vê como expressão de algum conhecimento ou sabedoria? Como temos professores deseducados. Como temos professores que não aprenderam e não aprendem. Como temos professores que não ensinam. Há muita gente escondida atrás de títulos e currículos.Verdadeiros títulos de capitalização. Ganham, são convidados para eventos e trabalhos importantes apenas por fingirem algum engajamento, por mentirem para sociedade que estão preocupados e ocupados com causas sociais. E o próprio governo ignorante da situação compra de inúmeros profissionais os serviços que chegarão muito pouco para muitos. Isto é visível principalmente nas universidades federais parceiras dos governos sempre. É delas a maioria dos projetos financiados com o dinheiro público que enriquece as contas gordinhas dos seus raros professores que não ganham pouco. Até a corrupção elitista permeia os “formadores”. O fato é que um professor de instituição federal geralmente e estranhamente apesar de concursado foi formado por ela. Quase um plano de carreira: você entra aluno e sai “mestre” sem pagar nada, o povo paga . É o atestado da boa educação, uma auto-afirmação para instituição que ela é mesmo a melhor chocadeira de formadores. Então estes estudantes famosos por sua intensa carga de estudos e festas orgíacas se fecham num “clube do imperador” tida como escola tradicional, com história e valores caros à sociedade e passam a ser admirados por essa sociedade a qual exploram. Por isso mesmo essas renomadas instituições do saber formando pencas e pencas de profissionais falta tudo para o povo. Onde estão? Cadê o retorno? A sociedade é vítima dela mesma. Os professores menos valorizados são o da educação básica. Já os professores universitários em geral foram bem o suficiente para investirem na própria formação para ganhar mais é claro....uma vez lá em cima, eles olham aqui para baixo com um certo desdém. Querem selecionar os “merecedores” da boa educação, quando a realidade sócio-econômica se mostra incapaz de ser uma boa peneira e deixa passar uns pobres. Há um discurso ainda de que mais universidades públicas, mais chance para o povo. Os professores formados e alunos formados não são da mesma safra de educadores dos professores que se formam e os alunos que se formam. Uma safra carece de humanidade, pra gente, mas não é de gente. São modos de manutenção do poder, da divisão, da heteronomia. Os governos vendem a ilusão de que serviço público é serviço para o povo, isto se vê na nossa qualidade de vida e na consciência que temos dessa qualidade de vida. Formar um professor é fazer com que ele não se forme. Dar a ele doutrina, mostrando-a como frutificante para um futuro promissor. Sabemos da desvalorização do professor como viés para a má educação como forma de domínio. A educação politiza o homem, eis o perigo para os mandantes. A politização tem sido na história do nosso país vista como uma ameaça ao poder instalado e suas classes tradicionais que se revezam de tempos em tempos em seus mandantes “eleitos”. Um perigo formar libertários. Um perigo a autonomia. Melhor é ter os burricos no cabresto e com as cangalhas cheias. Assim desinformados e tendo que trabalhar muito para sobrevivência como pensariam na educação como transformadora social? Melhor ainda: o governo dá a educação básica de péssima qualidade, investindo pouco e discursando que o país é de todos e que todos estão tendo oportunidades. Eta cabrestinho bom! A formação dos professores é péssima por que não foi permitido pensar em autoformação. Todos os sistemas de ensino são sistemas prisionais porque viciam os que haveriam de ser livres pensadores em dependências. Eles se vêem dependentes do estado, de reitorias, de métodos, de empregos, de consumos e sonhos de melhoria da própria vida. Deixam –se usar como instrumento político de alienação mais que educadores. Não refletem e não contestam, são empregados ameaçados e amordaçados pelo medo de represálias. Mesmo os estudantes hoje, parecem ter menos sangue nas veias. Não vão para as ruas gritar contra tanta corrupção. Não derrubam seus políticos por fraqueza, por falta de união e de voz perante a sociedade e como sociedade. Foram formados assim até onde estão. A maioria dos estudantes não reconhece suas utilidades enquanto estudantes. Somos estudantes formados sem criticidade.
Se há dificuldade em interpretar um texto imagine a realidade...que cidadão está se formando ou sendo formado? Como diria meu pai: "Cipó torce enquanto é verde".
Hoje este é o Koan: Ser formado é se formar?

Educação Física para todos!

A frase é bonita, parece slogan. Apesar de abordagens visarem pessoas com necessidades especiais a prática e o ensino da educação é defasado pelo conhecimento que o professor se propôs mesmo para pessoas sem necessidades especiais e carentes. Para rimar, há professores que são e ensinam como ser robôs. São aos alienantes. Antes fossem alienígenas. Discursam e fazem e repetem o que foi imposto como a verdade pedagógica. E os alunos aceitam de bom grado a matéria sem se darem por inquirir o objetivo e a capacidade do ensinante. Muitos ensinantes incapacitados se escondem atrás da máscara do “legal”. O professor é legal mas não sabe o que e como ensinar. Está ali pela graduação obtida mais que pela vocação, ou se esconde num “emprego”. Ele monta sua ementa, seu plano disciplinar anual e o segue como roteiro turístico, sendo ele próprio o turista perdido, sem guia. Na última aula de Metodologia e Prática de Ensino( ele precisa saber que muitos de seus colegas de instituição precisam de suas aulas) ele perguntou se colocaríamos um aluno para fora de sala por indisciplina e por quê? Muitas respostas interessantes. Uns acham que a punição poderia disciplinar ou ensinar. Outros que a punição iria ridicularizar o aluno e torná-lo ainda mais frustrado como a escola. Outros que o professor precisava impor respeito para ser respeitado... nada de ainda que endurecer perder a ternura jamais. O que ninguém se atentou era a oportunidade perdida de educar em vez de pensar em punir ou não punir. Um aluno indisciplinado é o mais necessitado de um educador. E este foge pelas vias da punição ou da indiferença. Professores tendem ao escapismo quando um aluno se revela problema, ele quer jogar a “bomba” nas mãos da coordenação ou dos pais ou da sociedade. Vejo que muitos professores não estão preparados para se relacionarem com os alunos. Eles tendem a seguir o senso comum onde a simpatia, a empatia, as afinidades estabelecem as relações, agradáveis claro. O grupo tende a se firmar por propósitos em comum, características em comum. Nos grupos mesmo de diferentes, não há espaço para as diferenças. Um desrespeito à singularidade do ser humano. Mesmo os professores de professores como ocorre nos cursos de licenciatura, repetem práticas sem nenhuma reflexão sobre as realidades de seus alunos, futuros professores. Precisa-se de pessoas que enxerguem na escola mais que um prédio preparando gente para o mercado de trabalho. Recentemente numa aula de recreação fui barrado por estar de calça jeans. Pensei que haveria uma prática onde seria exigida uma certa plasticidade, daí o necessário abrigo esportivo. Engano meu, práticas de jogos cooperativos não costumam ser intensas. Ela estava incorporando as normas da faculdade em suas aulas, estava obedecendo. Percebido isto, vendo que naquele momento surgia uma oportunidade de me educar ante minha própria revolta, percebi que aquela frustração poderia ser útil. Sentindo na pele uma educação excludente resolvi postar aqui uma autodeterminação: o mais importando é o educando e não a escola. De modo que quando professor eu possa ouvir as dificuldades de meu aluno antes da aula em vez de seguir cegamente uma norma. De modo que em minha formação eu tenha tido experiência e orientação o suficiente para adaptar a aula ao aluno e não o aluno à aula. De modo que eu saiba o quão aquele tempo e aquela aula e minha ação como educador são importantes para ele. De modo que ele aprenda por si mesmo como eu faço agora o valor das normas, da aceitação e do repúdio. De modo que ele veja no educador apenas um ser humano, tentando ganhar a vida ainda que pense que um educador seria capaz de sacrificar alguns valores para se manter sensível às dificuldades do educando. Em suma, que eu tenha forças para não sucumbir às exigências do mercado e preste meus serviços às exigências humanas. Aquela aula e outras aulas onde fui discriminado por não estar vestido adequadamente não se apagarão de minha memória. Obrigar alguém estar vestido para fazer alguma coisa é ensiná-lo a representar papéis calcando na vestimenta uma senha para a entrada do conhecimento necessário. Educar não é representar ou ensinar representação. Eu poderia pensar que a professora estaria me passando um valor, o respeito, respeitando uma norma instituída pelos dirigentes da faculdade. Mas minha formação até aqui não permite essa autocomplacência em forma de solidariedade. O desrespeito vem lá de cima como uma chuva suja. Ninguém é respeitado desrespeitando. Mas como respeitar a discriminação? Como respeitar atitudes desrespeitosas? Como ver numa pessoa o crachá de educador e perceber que ele mesmo não tem autonomia e querê-lo como modelo e guia na jornada?
Ser professor não é contar piada durante a aula para conquistar o aluno. Não é dar o que o aluno quer. Não é animar a galera. Não é bancar o cara legal e mostrar num aluno-modelo como os outros devam se comportar. Não é ditar regras. Não é doutrinar. Não é deixar alguém de lado, fora do grupo, fora da prática, fora do ensino para se livrar de um problema. É desmotivante ver professores que em vez de darem conteúdos com conteúdo apenas ensinam suas profissões e como se dar bem nelas. É desmotivante ver professores não comprometidos com o ensino, apenas cumprindo uma cláusula contratual. Quanta desmotivação há em ver professores que não professam, mas que repetem automatizados práticas ditadas pelo mercado de trabalho. Quanta desmotivação em ver a falta de domínio do que ensinam quando surgem os obstáculos da inquirição. E quanta desmotivação há em vê-los não vivenciando o que ensinam.
Dizendo que a educação física é para todos e tirando os alunos da aula, que desmotivante. Não é à toa que um estimado me disse que há muitos professores e poucos educadores. Que desmotivante. A desmotivação traz apatia. Vamos reverter as dificuldades em oportunidades. Que a observação seja seguida de reflexão e a reflexão de ação. Observados e contextualizados a discriminação, o desrespeito, e a exclusão , assim como a doença pode nos guiar para um busca por saúde, que nos eduquemos enxergando-os em falsos valores, mascarados em práticas e atitudes de educação. Educar não é seguir e nem ensinar a seguir regras. Um professor muito respeitoso de regras é um perigo. Toda regra é por natureza discriminatória. Educação Física para todos! Isso pareceu uma regra no disparate da generalização. O autoritarismo está sombreado na regra. A regra não simplifica, ela reduz. E está em toda relação hipócrita entre educandos e educadores. A regra é quase sempre punitiva e geradora de mais punições. E a exceção por direito? A exceção fica excluída, não participa, é privada de movimento, vista (ensina-se isto) como monstruosidade, defeito.
Questionemos as proibições. Questionemos as liberdades. Questionemos as regras. Questionemos a educação e a Educação Física, para que elas sejam para todos.

Cuidar da vida

Pesquisas têm mostrado que o brasileiro não tem percepção do seu estado de saúde. É difícil mesmo para os profissionais da área de saúde promoverem mudanças de atitude. Sendo que estes estão no final da fila como exemplo. Cardíacos continuam fumando, alcólatras continuam bebendo, hipertensos abusam do sal; diabéticos, do açúcar. As pessoas subiram tão alto em suas profissões para ver a vida de um único ângulo: o da saciedade. Elas procuram algum tipo de satisfação. Uma satisfação que as preencha nem que seja por cinco minutos, por uma refeição, por um momento de atenção e companhia. Há um isolamento se fazendo presente no ser humano, um isolamento dele mesmo. O ser humano tem se aceitado cada vez menos. Tem se afastado das coisas simples e naturais em nome dos modismos. Tem adoecido por que está sob controle da mídia. Tem sofrido em seu íntimo porque não construiu o hábito de se relacionar consigo. Não sabe quais são seus valores, ou em quem se inspirar. Em suma, a humanidade está pondo o planeta a perder porque não sabe cuidar da vida, as pessoas não sabem se cuidar. Acham que se cuidar é o que foi ensinado: cuidar de ter alguma coisa ou de alguma coisa que tem. Ninguém cuida de quem é. Está muito próximo o ter do ser. Chego a pensar que um se fantasia do outro. Ter fantasiado de ser e ser fantasiado de ter. Estamos confusos, não somos olhados se não chamarmos a atenção. As pessoas já não cuidam de suas vidas. Cuidar da vida para a maioria é viver egoisticamente. Fechadas em relações onde não há trocas, educadas para uma profissão, vivem num estilo de vida ditado por suas supostas escolhas. Precisam dizer uns aos outros o tempo todo quem são, o que fazem, o quanto ganham, o que têm... e assim com sua sociabilização fundamentada na hipocrisia o ser humano tem rido de infelicidade e vivido de transtorno a transtorno. Ora preso, ora perdido vai se destruindo e destruindo tudo que o rodeia. Ele tem desaprendido a relação entre vida, amor, respeito e cuidado.

Educação Física Escolar e Cidadania


A Educação Física é um entendimento prático do ser humano como centro do projeto educacional. Em suas múltiplas facetas busca a formação integral desse homem, ou seja, seu desenvolvimento físico, mental e espiritual. No decorrer de sua história a ciência do movimento humano foi vista e influenciada por diversas correntes filosóficas em todas as sociedades e culturas. Ela nunca foi única para todos, e tendo no corpo e na cultura de movimentos seu objeto foi representante legítima da expressão, da arte e da essência humana em toda sua diversidade. A Educação Física chega até nós vinda de muitos rumos diferentes, todos atrelados à algum momento histórico. Suas crises foram crises da humanidade. Sua importância tão pouca discutida no passado vem se mostrando na sociedade contemporânea, doente pela falta de movimento e pelas visões distorcidas a respeito de seu corpo, o corpo social. Precisamos repensar o movimento social e o corpo social. Assim quem sabe vemos como estamos vivendo e se queremos prosseguir, ou mudar. O movimento social é o movimento por uma vida digna de se viver. O corpo social é o corpo cidadão, o que busca por uma vida que seja expressão de suas responsabilidades e liberdades. Entenda-se que a EF é vista como filha de outras ciências como a Filosofia e a Medicina, por exemplo. Grandes filósofos cuidaram de seus corpos e dos prazeres transcendidos pelo corpo. Grandes médicos estudaram o corpo, pois salvar uma vida era e é salvar um corpo. E que atualmente muitas de suas abordagens nasceram da interação com outros ramos científicos como a psicologia e a biologia. O peso que o fazer ciência tem na sociedade é muito maior que o fazer educação. Ele dita a tendência, o modo de viver e pensar. A educação existe apenas fora do senso comum. Para a maioria das pessoas educar-se é concluir etapas da aprendizagem escolar. Educação é vista como sinônimo de escolaridade. Pior ainda é o pensamento de que educação é etiqueta. Educação é o relacionamento amoroso entre o transmitir e receber cultura. E isso está além do aprender e ensinar e na definição de papéis entre professor e aluno. Se o aprender parte de uma opção individual e ensinar é um ato coletivo, podemos observar que o aprendizado nem sempre é fruto do ensino. E que ensino precisa de um local próprio em tempo adequado. Já a educação ocorre em qualquer lugar a qualquer hora, tendo o educando como ponte entre o conhecimento e sua realidade. Aí vemos o quão vital é a participação da escola na educação para além da formação técnica ou profissional. O quanto o espaço institucionalizado de ensino pode agregar ou desagregar valores a partir de suas práticas pedagógicas. Há bons profissionais sendo péssimos cidadãos. Há grandes cientistas sem nenhuma ética. E há a massa na miséria da heteronomia. A falta de ética e de autonomia revela o sedentarismo caótico que é a falta de mobilização que de repente, não mais que de repente pode estar no modo de como essa sociedade teve e interpretou suas vivências motoras nas aulas de EF. A falta de reflexão e aprofundamento nos significados do corpo e seus movimentos adoecem a sociedade. Não é a toa que ela além de conivente é participativa em vários crimes que a vitimam. A força do discurso individualista não é visto no coletivo. Esse povo vai dando um jeitinho e vai vivendo. Esse povo que burlava as regras no jogo numa aula de EF, ou que não aceitava perder e fazia de tudo para continuar no jogo pelo que ele representava naquele momento...Talvez a intervenção de um professor de Educação Física seja mais do que dar o jogo, a brincadeira ou esporte. Quem sabe em sua prática ele possa dizer de um jeito muito marcante que conseguir viver não é dar um jeitinho para viver. Vivenciando os valores que acredita possa esse professor ensinar sobre cidadania. Ser cidadão: ter uma posição na sociedade refletindo sobre os valores vigentes, aceitando-os ou não com liberdade, consciência e responsabilidade. A criança precisa das mãos de um educador. E os jogos, brincadeiras, danças , as atividades rítmicas e expressivas e principalmente os esportes possuem valores que só podem ser passados por educador físico.Uma aula de EF, educação física escolar é uma aula de cidadania, uma aula que objetiva que não a formação da atleta, mas a formação do cidadão pautada no respeito, diálogo, solidariedade e justiça ou seja , discussão e abordagem do "tema" Ética no dia-a-dia dos alunos. Cidadania se aprende na escola também, e na aula de Educação Física.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Beleza é saúde e saúde é beleza

Quando nos entendemos como nossa própria auto-expressão fica impossível dissociar saúde e beleza. Tanta gente se matando em nome de um ou de outro, talvez por falta de uma compreensão mais holística de si mesmo... o apego a forma em comum entre as os dois. Ninguém fala em funcionamento. Uma beleza e uma saúde úteis. Para quê ser saudável e esbelto? A mídia impõe os padrões. A educação e as relações sociais firmam o que é e o que não é. E assim adoecemos em busca de saúde e de beleza. Olhamos para o espelho e somos incapazes de ver que não somos aquele reflexo. Nossa imagem fica desentendida como mensagem. O que a sua forma e a sua doença querem te dizer? _Pergunto-me. Onde está minha desatenção? O que tenho feito como meus problemas e o que eles tem feito de mim? Como eu tenho me ajudado ou procurado por ajuda?

A forma pode enganar. Aparências enganam. Nós nos enganamos. Há pessoas lindas sem saúde ou se não se cuidando. Cada um tem seu sentido, seu entendimento de vida , saúde e beleza...somos uma diversidade de singularidades. Saúde e beleza têm a ver com sentimento. Como nos sentimos? Como nós trocamos esses sentimentos com os outros e com o mundo para nos construirmos muito além da imagem na representação corporal?

A verdadeira beleza é a saúde. Que como a arte nos liberta. Que nos faz usufruir da potência que somos. Que se expressa no simples sorriso. A verdadeira beleza é a felicidade. Estamos felizes no sentirmos bem e em nos sentirmos bem. Saúde, beleza e felicidade nascem conosco e/ou podem ser construídas a partir da autoconsciência. Tudo pode mudar para melhor. Desejemos isso assumidamente. A beleza para ser vista e sentida precisa de olhos, coração e cérebro saudáveis ( funcionando no bem-estar). Percepção, sensibilidade e razão alinhados e interagindo... tenhamos essa proximidade entre o cérebro e coração para vermos claramente. Felizes, saudáveis e belos somos a vida em sua corporeidade. Releituras de nossos hábitos , sentimentos e pensamentos permitem novas abordagens para a realidade. Não nos entenderemos com o mundo sem nos entendermos primeiro. Sempre penso no dualismo e o quão desintegrador ele é. Eu e você, corpo e mente, saúde e doença, tristeza e alegria, prazer e dor... vemos a dimensão do conflito em vez da cooperação. Opostos mais que dispostos. Separados mais que unidos. Conclusões sendo que nada é conclusivo. Então hoje minha mensagem para meu corpo é que : saúde é beleza. Beleza é Saúde. E tudo é uma felicidade. É muito bom estar aqui e agora...obrigado vida sempre! Contribuição de Brahmananda Das para reflexão:

" A estrutura determina o comportamento. O que significa: a forma do seu corpo determina a forma como você funciona. Essa idéia pode soar fatalista se não for acrescentado o mais importante: a forma é maleável. À primeira vista, essa idéia pode parecer evidente. Mas é, de fato, revolucionária...já que a forma é modificável, que se pode desfazer as tensões, corrigir as anomalias e restabelecer o equilíbrio, então: SOMOS TODOS (POTENCIALMENTE) BELOS E BEM-FEITOS." Bertherat, Thérèse. O correio do corpo/ martins fontes 10ª ed 2001, p6-7.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A ética e o corpo

Como eu tenho tratado meu corpo? Tenho nutrido, tenho descansado, tenho dado a ele atividades nobres e recreativas, tenho dado a ele consciência? Tenho tido uma relação de qualidade com ele? Tenho respeitado? Como eu tenho me educado sendo este corpo?

Quando nascemos , nascemos numa sociedade com sua moral vigente. O corpo nasce e cresce numa fôrma de comportamentos e gestos impostos como aceitáveis. E mente segue o corpo. A mente se desenvolve sem inquirir, numa caixa, tendo-se como conteúdo e expressão de uma natureza mais íntima e subjetiva. O que ou quem faz a nossa cabeça? O que ou quem faz o nosso corpo?

Hoje somos bombardeados por estímulos e informações de toda sorte. Não há tempo para reflexão, digestão e mesmo apreciação do tipo de vida que temos vivido. Estamos num fluxo no meio da manada. E se pararmos, somos pisoteados por ela. Na manada somos iguais. Temos um comportamento ditado por alguma liderança a qual seguimos conscientemente ou não. Temos a necessidade da manada, a necessidade de pertencermos, a necessidade de sermos aceitos. A força está em estarmos na manada. É a nossa proteção. E uma das falas mais repetidas é o do contato. Que tipo de contato? O que te promove. O do tipo abre-portas. Conserve seus contatos, e cultive novos. Escore-se na vida social para obter sucesso profissional. Estamos em constante contato, mas um contato que muitas vezes nos distanciam de nós mesmos. Temos a tendência de seguir e de agradar, somos servos dessa tendência. E o corpo, por onde anda nosso corpo? O que ele tem experimentado?

O corpo recebe. Recebe tudo. E chega uma hora que ele transborda, que não contém. Nele já não cabe nem os encantamentos dos pequenos detalhes da vida. Ele está esgotado pelo esquecimento bipolar: excesso ou falta de zelo. O corpo adoece, e morre quando a mente adoeceu e morreu primeiro. Quando uma mensagem subliminar do caos se instaurou via sociedade no âmago do ser. E ele sem autonomia, sem onda própria fez a vida uma repetição de movimentos, de sentimentos de pensamentos em busca de alguma segurança e conforto. O corpo é a primeira voz. O primeiro som é o romper da vida nos primeiros momentos de formação do ser humano a partir do próprio corpo.

Nossa relação com o corpo se dá pelo prazer que buscamos e pela dor que evitamos. Poucos camaradas querem ir além. Querem uma visão holística e transcendente. Vejo no curso de E.F como lidamos com nossas emoções presas na entidade corpórea. Somos um emaranhado de incetezas e indecisões perdidos entre as próprias escolhas. Então não é raro vermos professores e estudantes de EF deteriorando-se por hábitos poucos saudáveis. Eles não vivem a própria Educação Física. Não se educam. Desrespeitam-se e aos outros. Tudo num clima de descontração, bagunça solidária, indiferenças. Estão cursando, aprimorando-se no como deixar os preconceitos rentáveis, a falta de ética aceitável, e a indisciplina agradável. Talvez um curso de E.F seja um apontamento do quão degradado e sem valores anda o espírito humano.

A ética implica em reflexão, em crítica. É difícil definir o que seja ético por que estão no alicerce valores construídos e valores em construção. Vale lembrar que devido a esse caráter subjetivo, a ética pode não estar de acordo com a moral vigente. Moral social, ética pessoal. Bem, então desse pressuposto a moral é feita pela congruência ética da maioria numa sociedade. O que temos de moral, foi decidido por outrem numa tentativa talvez ética, de controle, de supressão de alguma desordem ou caos. E o corpo e seu comportamento podem liberar nosso pensamento, podem clarear nossa idéia a respeito de nossas escolhas: escolhemos ou somos escolhidos? Escolhemos ou alguém escolhe através de nós?

Cuidemo-nos cuidando do corpo. Lembro que Platão compara o Estado ao corpo humano: cabeça, os governantes; o peito, soldados; o baixo-ventre, trabalhadores. Oras carambolas! Não é o corpo um Estado do Ser ou o próprio Ser em seu Estado de ser? Cuidemos daquele que em nós nos governa, nos protege e nos faz.

A banalização do corpo é a banalização da consciência e da vida. Refletir com alguma criticidade a respeito do que a moral tem feito com nossos corpos no decorrer do tempo, refletir sobre como temos recebido e expressado essa herança nas dimensões social, biológica e cultural, isso sim fará a diferença. O que pode mudar nossos corpos é o exercício da conscientização. Quanto mais forte a "consciência do corpo", maiores e mais significantes são as mudanças. Maior e mais significante é a vida.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Do recreio ao intervalo

Que saudade da hora do recreio. Recreio era o tempo entre as aulas para a recreação.O que é recreação? Segundo o Aurélio: sentir prazer ou satisfação. Divertir-se é recrear. Não se tem a obrigação de nada afora o prazer.
Um tempo livre dentro do tempo de trabalho ou de alguma forma de produção, raro hoje nas escolas, e nas idades. Lembro-me que nunca voltava o mesmo para a sala de aula. Voltava sujo, machucado, descabelado, suado, rasgado, enfim feliz e renovado. Na atualidade vejo os intervalos. Pessoas sérias em suas vulgaridades, corpos reprimidos pela ausência de movimento, interesses precoces, pressas, pouco papo bom, muita conversa fiada, vícios. O que houve?
É natural a passagem das fases, a maturidade, o apodrecimento resultante da degeneração da capacidade de fazermos uns aos outros felizes, de sermos recreadores. Da nossa fome em nós mesmos, nosso egoísmo : auto-existência e auto-suficiência que nos dão a dificuldade de nos renovarmos. Envelhecer é não querer se renovar. Fazemos pausas improdutivas para as nossas essências, fazemos intervalos sem prazer, sem lazer, sem o lúdico. Lúdicos? Que insulto é esse? Brincar é coisa de criança ou de palhaço... Dois grandes mestres com temos o que aprender, a criança e o palhaço, dois mestres no exercício do ser o que se é. Portanto muito respeito com essas autenticidades das quais carecemos.
Seria bom se mantivéssemos nossas gracinhas infantis, nosso despudor, nossa coragem despretensiosa de sermos verdadeiros, nossos interesses legitimados em nossas vontades. Éramos conscientes e não sabíamos. Éramos plenos de vida e vazios de ambições. Não prejudicávamos ninguém, só queríamos rir e fazer rir, brincar, recrear e depois voltarmos a aula para a realidade modificada pela renovação que propiciávamos uns aos outros. Mas o que é a vida? É coisa séria. É coisa de adulto.Viver não é brincar-grita a sociedade professorando o capitalismo: já para o trabalho. A vida não é recreio.
Estamos no intervalo, isso aqui não é recreio não.

Conectividade

Tao é uma expressão chinesa comumente traduzida por caminho.Caminho é o método. Um caminho sempre leva a algum lugar. Então Tao é o caminho de quem caminha enquanto caminha. Um caminho que só existe enquanto alguém o percorre. É o vazio construtor de tudo, o fio, a conectividade entre o ser, o vir-a-ser e o não-ser. Essa conectividade é chamada de wan wu e é conceituada assim: inseparabilidade de todas as coisas. E se percebe como naturalidade, simplicidade, espontaneidade. Se algo emperra, está desconectando. Gosto desse conceito, ele mostra como pensamos e agimos em blocos. Nossas ações são pesadas de intenções separadas pelos nossos pensamentos. Pensamos uma coisa, fazemos outra e tínhamos nossa intenção em outra ainda. Estamos essencialmente separados. Somos aleatórios, desconcentrados, sem nossa conectividade. Estamos perdidos, andando sem rumo, fingindo que sabemos para onde vamos apenas porque lemos placas.

Entre a usp e o cuspe

No começo era o verbo. O verbo era o poder. Porém todo começo tem seu antes. O que havia antes de nosso começo? Do que estamos falando? Filosofia? Religião? História? Sociedade? Estamos tratando de tudo isso: Educação. A educação começa na vida tribal, bem antes do ensino ser estruturado, bem antes de existir a escola e o professor e o aluno. Era época onde os mitos eram a própria realidade. Era nesse tempo em que não havia razão, mas todos seguiam esse saber mítico para explicar os mistérios e nortear suas vidas, que todos participavam da educação um do outro. Esses educandos e educadores não tinham uma saber ou uma especialidade preparatória. Não havia neles a pré-ocupação do futuro. Suas atitudes eram para o agora, o hoje. “Aprendiam pela vida e para a vida”.Com o crescimento da população, suas migrações para áreas pluviais, intensificaram – se a relações entre povos, surgiu a escrita, o comércio. O intercâmbio cultural e comercial foi início da sociedade antiga, onde se notou que o conhecimento era poder. E que o poder não é para todos. Começa-se o elitizar da educação num modelo que persiste até os dias de hoje.Hoje noto uma mudança de conceitos embora ainda da riqueza herdada pela elitização. A educação pública surgira como forma de “educação para servos”. Então tudo nela era montado para dar aos educandos o conforto de suas condições insinuando-se a proibição de avanços, mudanças, ou transformações sociais. Era uma forma de se assegurar a elite que ela nascida elite, seria elite até o fim. Esta por sua vez estudaria com os melhores mestres nas maiores escolas que o dinheiro pudesse construir e/ou comprar. Como hoje, naquela época as pessoas nasciam em condições de receber apenas um tipo de educação. E isso era determinado pela hierarquia social. É nojento. Felizmente houve as anomalias que contrariando o sistema imposto fizeram-se livres do determinismo dessa linha de produção educacional. Sim a educação é feita em escala, sob medida, numa linha de produção. Há uma empresa para isso, dirigida pelo poder, pelo dinheiro da elite.
O surgimento das universidades representa o ápice da do poder pelo saber. Surgidas as primeiras nos mosteiros, onde os filhos da nobreza eram educados segundo os dogmas clericais as universidades foram as corruptoras refinadas do direito humano ao conhecimento, restringindo-o à classe dominante. O título desse texto é um epitáfio para onde enterramos diariamente a educação. Diariamente quando validamos o valor do que nos desvaloriza. Quando permitimos a essa sociedade hipócrita que nos insulte com suas falsas excelências. Quando alunos e mestres, se não estamos numa usp estamos num cuspe. Algo que será escarrado em forma de profissional mas não terá seus lugar ao sol. As universidades federais hoje exigem uma preparação. Uma preparação que nenhuma escola pública de ensino infantil, fundamental e médio é capaz de prover. O que ocorre então? Não devia a universidade federal ser uma continuação do ensino público? Não. Onde está a elite? No poder. Você acha que alguém vai pagar uma faculdade quando pode dar a si mesmo e aos seus de graça? Se eu estivesse no poder não pagaria minha faculdade. E ainda criaria condições para que ela se tornasse a melhor. Top de linha, reconhecida internacionalmente. Com os recursos a produção cientifica e o ensino de qualidade trariam notoriedade e mais membros da elite se beneficiariam! Assim todo saber imediato à vida e a manutenção dos padrões nos salvaria da ascensão bárbara dos pobres. Qualidade! Isso é que a faz a diferença: as qualidades, os adjetivos mais que substantivos. Se eu estudo na “melhor” universidade, meu serviço especializado vindo dos tributos pagos pela plebe focará no atendimento da demanda da própria elite. Ou seja, trabalharei pouco e ganharei muito. Ou posso trabalhar mais e ganhar muito, mas muito mais. E se além de rico e inteligente eu for esperto, trabalharei também numa instituição pública! Lá terei várias funções pagas e nem precisarei ir a todas. Serei professor, coordenar, supervisor, chefe de algum departamento, e daí para cima. Ninguém notará que além dessas funções eu mantenho uma clínica ou escritório particular onde ganho com muito suor meu dinheirinho.
Sem contar nos projetos que a outras instituições fapespianas do governo podem me financiar. Sem contar nos projetos que posso lançar aos ministérios para arrecadar fundos para meus cursos, afinal sou professor!
Enquanto isso no mesmo planeta alguém que optou por estudar tem que sacrificar sua família, seus poucos recursos, seu trabalho desvalorizado pela sua condição. Você ganha isso porque estudou para ganhar isso –disse o chefe. Na realidade ele ganha isso porque não estudou. E por quê? Lembre da história acima, de como a elite se mantém no ensino público e a custas disso encarece seus preços e qualidade de seus serviços amparados pela especialização financiada pelo dinheiro público é uma excelência escravocrata, que não volta para a maioria da sociedade, o “Zé povão”. Aí proliferam as faculdades particulares, onde o ensino de qualidade depende do preço da mensalidade. Quanto mais cara melhor. E quem são os professores? Lembre da história acima, onde a multi-pessoa trabalha também respaldada num titulo alcançado sofridamente por anos de estudos. Sofridos anos de universidade pública onde ela pagou muito com seu precioso tempo. Ela poderia ter viajado mais pelo mundo, ido mais às grifs, mas não, ficou enfurnada numa sala de aula por anos, coitadinha. Uns 18 anos até o doutorado, uma vida inteira. Formados querem o retorno da moeda, do tempo perdido. Agora veja o outro lado da cédula velha que a história usa para nos comprar: o estudante da universidade particular. Trabalha de dia , estuda de noite. Ou vice-versa. Paga do próprio bolso a incapacitação social imposta: ou trabalha ou estuda. Estudar é em período integral. Sem contar que terá que estagiar. Então há o desdobramento da fatídica decisão: mudar a realidade ou não? Se sim ele terá que arcar pela escolha. Seu dia será curto se tiver 24h. Seu aprendizado estará comprometido se ele não cumprir com rigor a autodeterminação em estudar. E sua futura profissão estará sujeita à dupla jornada trabalho-estudo. É sofrido. Por isso governantes não investem em educação. A base, o ensino do infantil ao médio é vergonhoso. É para servos. Os donos dos servos pagam por uma educação real, menos preparatória e mais mantenedora de sua linhagem. Chego a pensar nos moldes da linha de produção da obra de A. Huxley, O Admirável Mundo Novo, somos criados pelos deterministas. Desse ovo nunca sairá a ave. A sua educação é uma herança genética, ou você nasce para uma usp ou lhe ensinarão que você nasceu para o cuspe.

Esporte é saúde?

Segundo a OMS, “Saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social completo e não apenas a ausência de enfermidade”.
Sabendo o que é saúde e o que é esporte podemos nos atrever a perguntar: esporte é saúde?
Uma atividade em que o sucesso depende da performance e que a performance é exigida repetidas vezes em nome da vitória, e tem que ser mantida como um padrão conquistado por treinamento ou talento está distante de propiciar saúde. A estrutura do profissionalismo já nasce doente. O esporte é um crime. Cerceia a liberdade do corpo , torna-o um objeto do treinador que é um objeto do clube, do time, da associação. Que por sua vez se mantém e arrecada seus recursos em nome de uma instituição maior que leva o nome do esporte seja ele futebol, voleibol, natação entre outros. Quem mantém o esporte não são os atletas que recebem para representá-lo. São os patrocinadores que vão desde grandes empresas à torcidas que enchem o evento pagando para ter sua “recreação”. O esportista em geral é alguém que sonha com a carreira profissional: fama e dinheiro a auto-realização humana.
O esporte como o jogo tem por natureza a competição e suas preciosas lições: o superior vence. Todos competem tentando provar superioridade. A meta é a vitória. E a vitória simboliza muitas coisas, dentre elas o nacionalismo, a eugenia, a discriminação. O discurso do esporte é a vida saudável, o trabalho social, integração. O esporte educa. Não , o esporte deseduca. No Brasil é incompatível estudar e ser esportista. A educação é sacrificada desde cedo.Se olharmos os rostos dos atletas veremos a expressão do estresse, de insatisfação, de burrice de ganância. São caricaturas de feitos heróicos, querem conquistar sem antes conquistarem a si mesmos. Querem conquistar um recorde, uma marca algo que os evidencie acima da média, vitoriosos.
Mas certamente na vida de cada profissional houve um momento onde ele se divertia com o que fazia. Seu esporte era ser feliz. Até que alguém dá a ele ou ele num lapso de autonomia tem por si mesmo uma idéia: ser profissional. Dependendo de onde ele vai passa a ser grato ao esporte: o esporte me deu tudo. O esporte me tirou das drogas e da rua. O esporte me deu saúde, diz em entrevista depois de anos em clínicas de reabilitação, felizmente ou infelizmente a instituição se tornou mais importante que as pessoas que a criaram. O esporte deixa tanta gente doente que já tem a medicina do esporte. Como uma coisa que cria um setor inteiro de medicina pode promover saúde?
E na escala social qual a contribuição real? Ele diminuiu a violência? Ele contribui para a educação? É uma instituição honesta? É um movimento cultural?
Atualmente nada vejo de lúdico ou recreativo no esporte. Não entendo a idéia de lazer ao ato de assistir e torcer por um time por explo. O desgaste, que isso gera, o envolvimento emocional imediato, o clímax. Além de lesar e burrificar, o esporte produz miséria e dentre as misérias alienantes a maior de todas que é tirar do ser humano o direito ao movimento. O sujeito fica horas frente a tv, ou numa arquibancada esperando por um detalhe que o massificará, passando por um período em que não precisa pensar, só “sentir “, ir na “ola”. Colocar o corpo no senso-comum, eis o esporte. Utilizar a repetição de movimento em regras estabelecidas, eis o esporte, minando a criatividade de quem faz e vê. Eis que ele é feito de atividade física, mas sem variação e por isso lesa o corpo e mente. Mente com seu discurso sobre saúde física, mental e social. Desconfio que o esporte seja uma arma perigosa. Aquela coisa de se formar o cidadão pode muito bem ser deformar o cidadão. A aparência do esporte é bela. A aparência é apenas a ponta do iceberg.

Maharishi Maheshi Yogi

Quem já leu, ouviu, viu alguma coisa sobre os Beatles certamente se lembrará de suas viagens na Meditação Transcendental e seu Guru o Maharishi. Imagine, composta por John Lennon está recheada dos frutos saborosos da MT. Meditantes gostam de falar de como essa prática integra corpo e mente. Meditantes com vivências corporais intensas gostam de demonstar essa interação tão forte do físico com o mental. Ah ! O corpo como caminho:
Certa vez perguntaram ao Maharishi por que o corpo se colocava como obstáculo à meditação e ao avanço da espiritualidade. Ele respondeu mais ou menos assim:
Você ganhou de presente um cachorro. Vocês são estranhos. Tentando acariciá-lo você foi mordido. Você bate nele e o prende...Ele nunca se tornará seu amigo. Ou em vez disso, você lhe dá boa comida, local para dormir e liberdade. Ele lhe retribuirá. Assim é com nosso corpo. Como servimos a ele, ele nos serve.

Filosofia do corpo

A sociedade se reproduz para se manter de mesmo jeito. Assim o conhecimento deve estar de acordo com o que a sociedade nessa época exige. Isso invalida a história como análise de nossa formação: embora conheçamos a história repetimos os mesmos erros.Em se tratando do corpo onde ele se situa? Onde está o seu corpo agora? A superficialidade de nossas relações começa na superfície da relação que temos com o nosso corpo. Não entendemos os questionamentos corporais nem o quanto são solicitantes de atenção. Ficamos de qualquer jeito, ou fazemos qualquer coisa, pois fomos adestrados e não educados. Nenhum sistema educacional motiva ao autoconhecimento. Sem isso tornamo-nos depósitos. Guardamos o que não produzimos. Até nossa idéia de felicidade é reproduzida e estocada dentro de nossas cabeças.
E nesse rótulo nesse frasco sem prazo de validade e sem informações nutricionais, faz com que vivamos sem sabermos quem somos. Somos um conteúdo sem a verdadeira consciência de si. Isso nos massifica. Isso nos coisifica. Nossa organização não permite reorganização. Nosso cérebro está provado, possui uma enorme plasticidade. Podemos nos adaptar. Todo a nossa história evolutiva está enraizada na capacidade de nos adaptarmos. Renegamos esse conhecimento.
Tenho visto no corpo os sintomas de muitas doenças da mente. Tenho visto as fronteiras da linguagem. Ainda não apreendemos, pois, que a linguagem é o símbolo através do fonema, do padrão sonoro. A reprodução está implícita como ordem no universo. Nosso corpo pode ser concebido como fruto da reprodução. Está determinado a se reproduzir, esse é o seu propósito, isso é a vida: continuidade da reprodução. Isso é uniformização do ser. Nada pode ser diferente, tudo segue o padrão. E o que não segue padrão paradoxalmente gerará um novo padrão. Estamos confinados? Encurralados? As doenças da mente e do corpo são as doenças do ser. Queremos ser. Eis que surge o excesso, pois já somos. Mas queremos ser o que os outros são. Queremos ser o que o ideal nos mostra. Queremos uma adequação do nosso ser ao julgamento alheio. E o corpo é a representação disso: de nossa busca pelo ser. O corpo com seu adoecimento é nossa falta de investigação: quem somos nós? Todas as dependências químicas e não-químicas são a negação, a refutação reducionista de nossa autonomia. Não queremos ser autônomos. Que graça tem esperar por uma onda que seja a sua, se todos vão juntos numa mesma onda?A individualidade pesa , a individualidade é uma solidão aterradora. Então nos anulamos, é melhor sermos agradáveis do que sermos autênticos. Todos queremos aceitação. A sociedade é feita dos que se aceitam, dos que se ajustam a ela. E o seu corpo estará no seu grupo. Talvez o seu grupo seja mais determinado pelo seu corpo do que pelas suas idéias. Seu corpo tem que estar limpo, bem vestido e mostrar suas posses. Está no corpo a primeira troca de impressões. Impressões do que somos. Isso seria um equívoco se não fosse uma imposição. Só o autoconhecimento pode nos preparar para a transcendência. Só a transcendência pode nos levar além dos paradigmas. Nós inventamos fronteiras que não existem e a maioria delas começa no corpo.