terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pedagogia da performance

Qual a relação entre imitação e aprendizagem? Somos imitadores desde a primeira infância. Imita-se para se aprender. E ao contrário do que possa parecer a imitação é um preparatório para emancipações e criatividade. Ela fornece elementos de exploração que devidamente trabalhados abrem o caminho para a diversidade. O que difere o conceito entre adultos e crianças é que o adulto já adquiriu sua bagagem cultural e pode pensar , julgar sobre a causa e a finalidade do que imita. A criança em sua construção de mundo por sua vez tem pela falta de um um julgamento mais rigoroso a possibilidade de uma experimentação maior sobre o que imita. É portanto a criança mais livre no sentido de significar seu movimento a partir de sua vivência. Ela aprende, o adulto re-aprende e por vezes julga-se sabedor do que sequer aprendeu de fato. Isso mina a experiência. Nosso corpo traz em cada célula uma linha de nossa história. O ser humano é performático. Sua essência e sua ação ora se unem, ora se revezam na construção dos significados. Tudo passa a existir se tudo significar. Assim a pedagogia , bem como a pedagogia do movimento são artes performáticas. E todo processo ensino-aprendizagem segue nossa natureza de imitadores. Basta ver  que uma aula é uma prática de imitação, nós copiamos as ações de nossos professores. Estes formados e refinados , já com seus movimentos significados ou com resignificações. Ser educador contudo, não é inspirar imitação. É propor através da performance uma atitude questionadora e de valoração. Estender a imitação, criar fase, vínculos ou mesmo teorizações acerca do prolongamento de repetições copiativas é escravizador e várias ideologias se usam disso para cercar seus membros ou  recrutá-los. Haja visto os comerciais televisivos e a publicidade. Não há como ser um expert em uma área sem performance contextual ou intertextual até. Isso faz repensar a relação entre a beleza e a verdade. O belo nem sempre verdadeiro, é sempre agradável. Tive uma colega de classe linda. Coxas torneadas, bubum durinho, seios empinados, curvas e curvas para as  derrapagens masculinas. Mas em ação... que negação. A moça que parecia estar em plena forma, carecia de elasticidade, flexibilidade, força, ritmo... atributos indispensáveis às donzelas guerreiras da E. Física. Um explo apenas da complexa relação entre beleza e verdade. Aliás ela começou a dar aulas em academia por causa da beleza. Mesmo sem nenhuma formação ou competência. Essa contraria a pedagogia da performance e instaura a pedagogia da aparência. Ela ensina porque é bela. Em se tratando de performance na educação isso não parece preocupação da maioria dos professores. Há discursos dominantes inclusive sobre a importância da performance na didática. É engraçado uma professora de ginástica geral e olímpica, não ter vivência e proficiência na prática embora tenha formação e didática( saber ensinar o exercício é o mais importante). Muito engraçado é ela ser espelho dessa aluna por explo: estar aparentemente em forma e sofrer muito dando aulas. Isso é observável porque imitar alguém não é segui-lo cegamente. É notar nossas limitações pela limitação do outro. E nossas capacidades pelas capacidades do outro. A relação eu-outro mediará a introspecção, a auto-descoberta e conhecimento de nossos próprios limites. Até onde estamos imitando? Até onde estamos aprendendo? A nossa performance é nossa ação, atuação, interação. O que fazemos nos ensina, ensina os outros e, diz quem somos.