sexta-feira, 22 de junho de 2007

Esporte é saúde?

Segundo a OMS, “Saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social completo e não apenas a ausência de enfermidade”.
Sabendo o que é saúde e o que é esporte podemos nos atrever a perguntar: esporte é saúde?
Uma atividade em que o sucesso depende da performance e que a performance é exigida repetidas vezes em nome da vitória, e tem que ser mantida como um padrão conquistado por treinamento ou talento está distante de propiciar saúde. A estrutura do profissionalismo já nasce doente. O esporte é um crime. Cerceia a liberdade do corpo , torna-o um objeto do treinador que é um objeto do clube, do time, da associação. Que por sua vez se mantém e arrecada seus recursos em nome de uma instituição maior que leva o nome do esporte seja ele futebol, voleibol, natação entre outros. Quem mantém o esporte não são os atletas que recebem para representá-lo. São os patrocinadores que vão desde grandes empresas à torcidas que enchem o evento pagando para ter sua “recreação”. O esportista em geral é alguém que sonha com a carreira profissional: fama e dinheiro a auto-realização humana.
O esporte como o jogo tem por natureza a competição e suas preciosas lições: o superior vence. Todos competem tentando provar superioridade. A meta é a vitória. E a vitória simboliza muitas coisas, dentre elas o nacionalismo, a eugenia, a discriminação. O discurso do esporte é a vida saudável, o trabalho social, integração. O esporte educa. Não , o esporte deseduca. No Brasil é incompatível estudar e ser esportista. A educação é sacrificada desde cedo.Se olharmos os rostos dos atletas veremos a expressão do estresse, de insatisfação, de burrice de ganância. São caricaturas de feitos heróicos, querem conquistar sem antes conquistarem a si mesmos. Querem conquistar um recorde, uma marca algo que os evidencie acima da média, vitoriosos.
Mas certamente na vida de cada profissional houve um momento onde ele se divertia com o que fazia. Seu esporte era ser feliz. Até que alguém dá a ele ou ele num lapso de autonomia tem por si mesmo uma idéia: ser profissional. Dependendo de onde ele vai passa a ser grato ao esporte: o esporte me deu tudo. O esporte me tirou das drogas e da rua. O esporte me deu saúde, diz em entrevista depois de anos em clínicas de reabilitação, felizmente ou infelizmente a instituição se tornou mais importante que as pessoas que a criaram. O esporte deixa tanta gente doente que já tem a medicina do esporte. Como uma coisa que cria um setor inteiro de medicina pode promover saúde?
E na escala social qual a contribuição real? Ele diminuiu a violência? Ele contribui para a educação? É uma instituição honesta? É um movimento cultural?
Atualmente nada vejo de lúdico ou recreativo no esporte. Não entendo a idéia de lazer ao ato de assistir e torcer por um time por explo. O desgaste, que isso gera, o envolvimento emocional imediato, o clímax. Além de lesar e burrificar, o esporte produz miséria e dentre as misérias alienantes a maior de todas que é tirar do ser humano o direito ao movimento. O sujeito fica horas frente a tv, ou numa arquibancada esperando por um detalhe que o massificará, passando por um período em que não precisa pensar, só “sentir “, ir na “ola”. Colocar o corpo no senso-comum, eis o esporte. Utilizar a repetição de movimento em regras estabelecidas, eis o esporte, minando a criatividade de quem faz e vê. Eis que ele é feito de atividade física, mas sem variação e por isso lesa o corpo e mente. Mente com seu discurso sobre saúde física, mental e social. Desconfio que o esporte seja uma arma perigosa. Aquela coisa de se formar o cidadão pode muito bem ser deformar o cidadão. A aparência do esporte é bela. A aparência é apenas a ponta do iceberg.