quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Corpolatria

O que é corpolatria?

Todos já temos uma idéia do que seja o culto ao corpo. Corpolatria. Esse neologismo surgiu com Wilson Senne e Wanderley Codo autores de um livro em que abordam o tema de que passa da cultura para culto ao corpo(O que é Corpolatria?). O culto ao corpo numa comparação com o sistema religioso.
Tudo o que o corpo gera pode escravizá-lo. O imediatismo, o salvacionismo e a perdição de nossas vidas está representada na nossa relação com o próprio corpo. O corpo exige milagres, sacrifícios, templos, e cultos. É o deus corpo. É um deus que castiga. Que pune com a doença, com a forma, com a insatisfação. O corpo domina a mente. É mais elevado e tem pelas modernas técnicas tentado se manter jovem e saudável a ponto de brigar com o tempo. Se utilizarmos como parâmetro o dualismo psicofísico poderíamos constatar que no mundo contemporâneo a mente está mesmo submissa ao corpo. Todas as formas de consumo e produção visam confortos, necessidades e carências do corpo. A mente fica apenas como sensação e percepção no usufruto das escolhas e apetites corporais. Presente, age apenas confirmando os pedidos do corpo como uma mãe mimando o filho sem saber onde os mimos terminarão. A mente ama o corpo. Devota-se a ele. Vicia-se nele. Fecha-se nele numa solidão. Outros corpos são no máximo para satisfazê-lo. A mente é escrava do corpo. Trabalha para ele. O conceito “Corpolatria” é uma análise da alienação a partir do corpo. Se na Educação Física nos propomos a ajudar a partir do corpo, tomamos consciência de que um trabalho mal feito pode sim terminar como uma doença a partir do corpo. A mente é descartada. Aparece apenas nos tratamentos psiquiátricos, psicológicos e na medicina alternativa. Lembrando Juvenal : corpo são em mente sã. Hoje seria mente insana em corpo doente. Hoje seria o homem doente em corpo e mente. E se aqui faço uso do dual para apontar as dimensões do homem, reforço minha concepção de que mente e corpo não se separam e não se opõem. São totalidade. O corpo é objeto da ciência e da religião. A ciência que estranhamente não encontrou uma solução para a fome mundial, a religião que faz o homem ter o prazer corporal como pecado e transgressão não são ao meu ver boas referências para se conhecer o corpo. A intuição, a vivência corporal sadia, a própria individualidade, essas sim podem ser bons observatórios. Por que a razão pode dizer que você tem um corpo. Mas sentido um perfume trazido pela brisa, vendo a claridade do dia no sol e dançar com alguém por quem se é apaixonado...tudo isso diz enfaticamente : você é esse corpo. E muito além desse corpo. É uma única identidade. Não é uma coisa. Suas relações são impregnadas de e por valores. Como estudante da Educação Física noto que o corpo precisa ser reumanizado , o corpo precisa ser deixado dessas concepções que o dividem e o distanciam de si próprio. Não é um deus nem coisa, o corpo é humano.
Pouco se tem encontrado a concepção do ser integral. O ser que não é dual. Mas alguém me diga onde é o órgão da mente e onde é a mente de cada órgão. Não há duas coisas separadas ou unidas. O ser humano é único. Embora se manifeste em diversas dimensões é o mesmo ser.
Hoje as pessoas entregam seus corpos sem reflexão. É o corpo sem dono, o corpo que se torna o dono do ser. É o corpo armadilha, é o corpo-problema. E nisso surgem soluções: você não resolve, mas isso resolve: próteses, lipo-esculturas, plásticas, anabolizantes, anfetaminas, e tantos outros comportamentos compulsivos em busca do corpo ideal. Tudo comprado pela imagem de corpo vendida. O corpo ideal é gerado e mantido pelas relações de produção e consumo através da mídia. A propaganda explora o corpo. O entretenimento explora o corpo. Toda relação tem explorado o corpo que se busca nesse ideal imposto. O corpo adoece: está obeso, anoréxico, bulímico, compulsivo por comida, por sexo, por jogo, por drogas, por movimento e consumo. Vigorexia, ortorexia...o corpo é um transtorno na vida gente. Estamos nos deseducando, desumanizando-nos através do corpo. Nossa felicidade tem se limitada pela atual concepção capitalista de corpo. O culto ao corpo traz uma mensagem de preconceito. Traz uma mensagem de não-aceitação. As pessoas se violentam com sentimentos de desprezo por si mesmas. O amor – próprio tem sido o amor à idéia do que o próprio corpo deveria ser. Apego ao ideal tem sido o amar o corpo. O corpo está confuso. Ele não sabe pelo quê está sendo amado. E que amor é esse? Também é fato que o corpo é um bem de consumo na vitrine social. Os corpos vendem, são vendidos.Tudo parece fomentar a Corpolatria. Será que o corpo é o nosso último deus? Um corpo que nasce em forma humana, e cresce, e vive e morre como humano. E o ser humano que nasce em forma de corpo, e cresce, e vive e morre como corpo. O corpo tem sido um esquecimento de si mesmo no além do corpo. É no corpo que se traduz e se expressa a busca pela identidade, pelo lugar, pela meta, pela felicidade...pela vida. Cuidemo-nos.