segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A cultura é corporal

O aprendizado pelo afeto

Ser professor é mesmo um sonho romãtico, saborosamente romã-tico. Fica mais prazerosa a relação aprendizagem-ensino quando há afetividade. Fica mais fácil aprender com quem a gente gosta e que gosta do que faz. Olhamo-nos com admiração e respeito quando nos encontramos pelos caminhos dos objetivos em comum. Sábio verso freiriano: “ninguém ensina ninguém, todos aprendem em comum união”.O que nos une é o afeto. O olhar, o ouvir e o tocar... Como nós trocamos energias! O sentimento reforça a atenção e a memória. A secretaria da escola da vida é o coração! Saber é saber de coração, é saber decorado, no sentido de enfeitado pelo amor. E nessa decoração de coração pelo amor é que o conhecimento vai nos transformando. Não há aprendizado sem afeto. Idem ensino. Nossas relações são afetuosas por natureza. Nossos moveres são de afetos. Não nos neguemos, pois, afetividade. E nisso a vida fica muito mais do que uma sucessão de erros e acertos. Somos humanos e fazemos escolhas. Nós não aprendemos com o erro. Aprendemos com a correção do erro - Como me disse certa vez um professor. E disso a gente só se apercebe com afeto.

O estágio

Muita gente nessa vida não atua, estagia. O estágio é uma subordinação ao estado de aprendizagem profissionalizante. Muita gente nessa vida não aprende é condicionada.
Fui ver a prática na prática: fiz o meu primeiro estágio escolar na educação básica! Fui privilegiado com uma escola excelente e seus professores mui bem preparados e amigáveis. Fiz dois amigos! Generosos em seu magistério fortaleceram em mim o desejo de me educar e de ter como viés de minha prática pedagógica a auto-educação. Nós aprendemos a partir de nossa vontade e empenho e realidade. Depois trocamos essas vontades, empenhos e realidades. Isto é educação: mais troca do que transmissão. E se auto-educar é dar aos valores corpo. É ter em si o processo, o fluir. No estágio pode-se observar, experimentar, agregar e trocar. É a teoria na prática, as vezes nem sempre. É a prática as vezes, sem teoria. Não vamos dar terreno para a dicotomia. Na pedagogia pelo movimento, estagiar é ensaio mais que rascunho. Um treino mais que exposição. É a leitura do diário do professor e de suas intervenções pedagógicas como agentes sociais, sobretudo. Li suas relações com seus alunos, colegas de outras disciplinas, e coordenação. Enfim, do que a escola significava e de seu papel dentro e fora dela. Foi muito proveitoso. Muito trabalho, muita energia, muito movimento e inteligência.
Mas é difícil estudar e trabalhar e ainda estagiar. Por força dessas circunstâncias cheguei a ter uma rotina de meses onde dormir 5h por noite era um presentão. Aulas aos sábados, tardes agradáveis graças ao coleguismo e ao nosso superprofessor de Metodologia e Prática do Ensino...O senhor Wilson e seus pimentinhas da Educação Física. E quando não aulas, AACC, atividades acadêmicas científicas e culturais nos fins de semanas. Rola um estresse e um zumbizismo com essa rotina. As vezes penso que toda essa intensidade no curso atrapalha mais que ajuda em termos de aprender. Sem contar nos rendimentos em outros setores da vida, donde a gente se ausenta. Colegas de trabalho e outros relacionamentos sofrem. E como dizia o Budha , viver ou é sofrer ou é transcender. Transcendamos. Por que além do estresse da situação, há o nosso estresse e o dos outros por nossa causa, por conta do estágio. Podemos sofrer além desde a política da escola, ameaças em vários tons vindas de nossas chefias. Isso é bem presente no estágio: ninguém verá sua dificuldade. Eles querem que você desempenhe sua função ainda que não dêem recursos para tal.
O que valida o estágio é que você foi lá aproveitou, fez, esteve de corpo e alma. Mais que assinaturas e documentos comprobatórios, a experiência e o conhecimento são impagáveis.
Vi além dos livros e de meus professores o significado da Educação Física Escolar. Vi como a escola trata um meio de educação como mera atividade, brincadeira, jogo. Sem inclusive reconhecer o valor desses conteúdos. Trata-se ainda a “matéria” EFE como aula extracurricular, um momento para o aluno extravasar, para evitar o sedentarismo, ou descansar da carteira escolar. É incapaz de ver a intervenção de professor como interdisciplinaridade e transdiciplinaridade. Por outro lado, além do discurso é inspirador ver professores engajados. Professores preocupados com a educação, aquele professor que diz para o aluno: “você é a sua vida, pense bem no que está fazendo e no que quer”. O cidadão está ali na escola, na educação básica e precisa crescer sendo tratado com cidadania.