segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Educação Física para todos!

A frase é bonita, parece slogan. Apesar de abordagens visarem pessoas com necessidades especiais a prática e o ensino da educação é defasado pelo conhecimento que o professor se propôs mesmo para pessoas sem necessidades especiais e carentes. Para rimar, há professores que são e ensinam como ser robôs. São aos alienantes. Antes fossem alienígenas. Discursam e fazem e repetem o que foi imposto como a verdade pedagógica. E os alunos aceitam de bom grado a matéria sem se darem por inquirir o objetivo e a capacidade do ensinante. Muitos ensinantes incapacitados se escondem atrás da máscara do “legal”. O professor é legal mas não sabe o que e como ensinar. Está ali pela graduação obtida mais que pela vocação, ou se esconde num “emprego”. Ele monta sua ementa, seu plano disciplinar anual e o segue como roteiro turístico, sendo ele próprio o turista perdido, sem guia. Na última aula de Metodologia e Prática de Ensino( ele precisa saber que muitos de seus colegas de instituição precisam de suas aulas) ele perguntou se colocaríamos um aluno para fora de sala por indisciplina e por quê? Muitas respostas interessantes. Uns acham que a punição poderia disciplinar ou ensinar. Outros que a punição iria ridicularizar o aluno e torná-lo ainda mais frustrado como a escola. Outros que o professor precisava impor respeito para ser respeitado... nada de ainda que endurecer perder a ternura jamais. O que ninguém se atentou era a oportunidade perdida de educar em vez de pensar em punir ou não punir. Um aluno indisciplinado é o mais necessitado de um educador. E este foge pelas vias da punição ou da indiferença. Professores tendem ao escapismo quando um aluno se revela problema, ele quer jogar a “bomba” nas mãos da coordenação ou dos pais ou da sociedade. Vejo que muitos professores não estão preparados para se relacionarem com os alunos. Eles tendem a seguir o senso comum onde a simpatia, a empatia, as afinidades estabelecem as relações, agradáveis claro. O grupo tende a se firmar por propósitos em comum, características em comum. Nos grupos mesmo de diferentes, não há espaço para as diferenças. Um desrespeito à singularidade do ser humano. Mesmo os professores de professores como ocorre nos cursos de licenciatura, repetem práticas sem nenhuma reflexão sobre as realidades de seus alunos, futuros professores. Precisa-se de pessoas que enxerguem na escola mais que um prédio preparando gente para o mercado de trabalho. Recentemente numa aula de recreação fui barrado por estar de calça jeans. Pensei que haveria uma prática onde seria exigida uma certa plasticidade, daí o necessário abrigo esportivo. Engano meu, práticas de jogos cooperativos não costumam ser intensas. Ela estava incorporando as normas da faculdade em suas aulas, estava obedecendo. Percebido isto, vendo que naquele momento surgia uma oportunidade de me educar ante minha própria revolta, percebi que aquela frustração poderia ser útil. Sentindo na pele uma educação excludente resolvi postar aqui uma autodeterminação: o mais importando é o educando e não a escola. De modo que quando professor eu possa ouvir as dificuldades de meu aluno antes da aula em vez de seguir cegamente uma norma. De modo que em minha formação eu tenha tido experiência e orientação o suficiente para adaptar a aula ao aluno e não o aluno à aula. De modo que eu saiba o quão aquele tempo e aquela aula e minha ação como educador são importantes para ele. De modo que ele aprenda por si mesmo como eu faço agora o valor das normas, da aceitação e do repúdio. De modo que ele veja no educador apenas um ser humano, tentando ganhar a vida ainda que pense que um educador seria capaz de sacrificar alguns valores para se manter sensível às dificuldades do educando. Em suma, que eu tenha forças para não sucumbir às exigências do mercado e preste meus serviços às exigências humanas. Aquela aula e outras aulas onde fui discriminado por não estar vestido adequadamente não se apagarão de minha memória. Obrigar alguém estar vestido para fazer alguma coisa é ensiná-lo a representar papéis calcando na vestimenta uma senha para a entrada do conhecimento necessário. Educar não é representar ou ensinar representação. Eu poderia pensar que a professora estaria me passando um valor, o respeito, respeitando uma norma instituída pelos dirigentes da faculdade. Mas minha formação até aqui não permite essa autocomplacência em forma de solidariedade. O desrespeito vem lá de cima como uma chuva suja. Ninguém é respeitado desrespeitando. Mas como respeitar a discriminação? Como respeitar atitudes desrespeitosas? Como ver numa pessoa o crachá de educador e perceber que ele mesmo não tem autonomia e querê-lo como modelo e guia na jornada?
Ser professor não é contar piada durante a aula para conquistar o aluno. Não é dar o que o aluno quer. Não é animar a galera. Não é bancar o cara legal e mostrar num aluno-modelo como os outros devam se comportar. Não é ditar regras. Não é doutrinar. Não é deixar alguém de lado, fora do grupo, fora da prática, fora do ensino para se livrar de um problema. É desmotivante ver professores que em vez de darem conteúdos com conteúdo apenas ensinam suas profissões e como se dar bem nelas. É desmotivante ver professores não comprometidos com o ensino, apenas cumprindo uma cláusula contratual. Quanta desmotivação há em ver professores que não professam, mas que repetem automatizados práticas ditadas pelo mercado de trabalho. Quanta desmotivação em ver a falta de domínio do que ensinam quando surgem os obstáculos da inquirição. E quanta desmotivação há em vê-los não vivenciando o que ensinam.
Dizendo que a educação física é para todos e tirando os alunos da aula, que desmotivante. Não é à toa que um estimado me disse que há muitos professores e poucos educadores. Que desmotivante. A desmotivação traz apatia. Vamos reverter as dificuldades em oportunidades. Que a observação seja seguida de reflexão e a reflexão de ação. Observados e contextualizados a discriminação, o desrespeito, e a exclusão , assim como a doença pode nos guiar para um busca por saúde, que nos eduquemos enxergando-os em falsos valores, mascarados em práticas e atitudes de educação. Educar não é seguir e nem ensinar a seguir regras. Um professor muito respeitoso de regras é um perigo. Toda regra é por natureza discriminatória. Educação Física para todos! Isso pareceu uma regra no disparate da generalização. O autoritarismo está sombreado na regra. A regra não simplifica, ela reduz. E está em toda relação hipócrita entre educandos e educadores. A regra é quase sempre punitiva e geradora de mais punições. E a exceção por direito? A exceção fica excluída, não participa, é privada de movimento, vista (ensina-se isto) como monstruosidade, defeito.
Questionemos as proibições. Questionemos as liberdades. Questionemos as regras. Questionemos a educação e a Educação Física, para que elas sejam para todos.