segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A alma pelo corpo

“Há algum estado de êxtase dentro deste corpo no qual eu possa estabelecer minha consciência?Há algum caminho místico que conduza a esse lugar?” _ Pergunta feita no Kaushitaki Upanishad, conjunto de escrituras antigas e sagradas da Índia. Temos aprendido que felicidade está ligada a coisas, prazeres e satisfações. Quase sempre estes três por vez estão ligados a algum tipo de consumo e são efêmeros. Sofremos de uma infelicidade crônica por incapacidade de transcendência. Queremos relações duráveis com coisas que não duram, ou que durarão mais que nós. Nosso corpo é a somatização dessa nossa perdição: tantos caminhos, tantos lugares...para onde ir? Onde estaremos felizes? Será que só a doença pode mostrar o valor da saúde? Será que só a prisão pode nos mostrar o que é liberdade? Só o ódio nos fará buscar pelo amor? E o nosso corpo... será que nossa existência é a existência dele ? Onde a alma se esconde dentro do corpo?Como encontrá-la? Alma é tão vago, tão abstrato. O corpo é sensível, palpável, real. O corpo cria a realidade a partir de sua existência. Sem o corpo como estaríamos aqui? Herança do dualismo psicofísico pensamos em ambos separadamente, pensar aliás já é uma ação que não sabemos se parte do corpo ou é estimulado nele por uma agência externa. Hoje pesquisas da neurociência, mostram uma consciência capaz de funcionamento independendo do funcionamento cerebral. E eu que pensava ser consciente apenas porque tinha cérebro... a ciência não provou nada ainda. O fato é que tenho pensado no corpo e na alma como uma entidade única, separados apenas por nossas idéias, ou idéias ancestrais. O caminho místico é um caminho de práticas e de vivências corporais. Somos a corporeidade da vida e o fato de sabermos nossa origem biológica tem um limite. Há um ponto que toda explicação cessa pelo caminho do corpo e da matéria orgânica. Não conseguimos avançar na dúvida. Apenas aceitá-la. Aí entram várias interpretações da realidade tendo o corpo como cálice donde a divindade bebe a alma, a alma parte para algum lugar cessado a vida do corpo. E antes do nascimento? O corpo era o gameta e a alma o que era? A partir de que momento ela se instala? Donde vem? Muita metafísica para a Educação Física. É engraçado não nos aventurarmos em conhecer o íntimo humano a partir do corpo e vermos separadamente o cuidado da mente, do corpo e da alma. Falamos numa educação integral, entretanto. Como meditante tive uma experiência mística depois de correr 10km. Cansado, deitei-me na grama e olhei para o imenso azul acima. Aí pensei isto é uma altura ou uma profundidade? Sustenho-me ou caio? Sou minha alma ou meu corpo?
Com o coração ainda acelerado, banhado de suor e com um sensação de existência espiritual indescritível numa união orgânica com a natureza ocorreu-me:
_Eu não sou uma alma que tem um corpo. Nem sou um corpo que tem uma alma. Sou uma alma que é um corpo e um corpo que é uma alma.

Formação de um professor

Títulos , prêmios e certificados atestam a formação de um profissional mais que sua própria formação. Ainda que ele não se interesse pelo que está fazendo ou o saiba, um diploma lhe dá o direito de ganhar dinheiro com sua profissão. Profissional é o que tem a profissão mais do que o que sabe exercê-la. Há muita incompetência diplomada. Há muita gente desumana fingindo que salva vidas, que educa, que faz. Mas o que fazem é podar a vontade e a chance ou é ocupar lugares de gente que realmente quer fazer. O médico finge que medica, o professor finge que ensina, o povo finge que é feliz governado por um governo que finge governar. É gente formada. É gente que tem acesso a cultura que pode democratizá-la. É gente educada que tem o como disseminar a semente de uma educação acessível e boa. O professor não pode ser formado. Ele tem que se formar. Caso contrário ele irá deformar enquanto ele mesmo deformação. Mais do que a graduação é o ter o que e como e a quem ensinar que faz nascer o professor. Quem tem a ensinar é professor por natureza. Quem ensina o que estudou ou adquiriu exteriormente, ganhando apenas dinheiro para tal, vivendo insatisfeito pelo caminho escolhido será que professa alguma coisa? Será que o aluno o vê como expressão de algum conhecimento ou sabedoria? Como temos professores deseducados. Como temos professores que não aprenderam e não aprendem. Como temos professores que não ensinam. Há muita gente escondida atrás de títulos e currículos.Verdadeiros títulos de capitalização. Ganham, são convidados para eventos e trabalhos importantes apenas por fingirem algum engajamento, por mentirem para sociedade que estão preocupados e ocupados com causas sociais. E o próprio governo ignorante da situação compra de inúmeros profissionais os serviços que chegarão muito pouco para muitos. Isto é visível principalmente nas universidades federais parceiras dos governos sempre. É delas a maioria dos projetos financiados com o dinheiro público que enriquece as contas gordinhas dos seus raros professores que não ganham pouco. Até a corrupção elitista permeia os “formadores”. O fato é que um professor de instituição federal geralmente e estranhamente apesar de concursado foi formado por ela. Quase um plano de carreira: você entra aluno e sai “mestre” sem pagar nada, o povo paga . É o atestado da boa educação, uma auto-afirmação para instituição que ela é mesmo a melhor chocadeira de formadores. Então estes estudantes famosos por sua intensa carga de estudos e festas orgíacas se fecham num “clube do imperador” tida como escola tradicional, com história e valores caros à sociedade e passam a ser admirados por essa sociedade a qual exploram. Por isso mesmo essas renomadas instituições do saber formando pencas e pencas de profissionais falta tudo para o povo. Onde estão? Cadê o retorno? A sociedade é vítima dela mesma. Os professores menos valorizados são o da educação básica. Já os professores universitários em geral foram bem o suficiente para investirem na própria formação para ganhar mais é claro....uma vez lá em cima, eles olham aqui para baixo com um certo desdém. Querem selecionar os “merecedores” da boa educação, quando a realidade sócio-econômica se mostra incapaz de ser uma boa peneira e deixa passar uns pobres. Há um discurso ainda de que mais universidades públicas, mais chance para o povo. Os professores formados e alunos formados não são da mesma safra de educadores dos professores que se formam e os alunos que se formam. Uma safra carece de humanidade, pra gente, mas não é de gente. São modos de manutenção do poder, da divisão, da heteronomia. Os governos vendem a ilusão de que serviço público é serviço para o povo, isto se vê na nossa qualidade de vida e na consciência que temos dessa qualidade de vida. Formar um professor é fazer com que ele não se forme. Dar a ele doutrina, mostrando-a como frutificante para um futuro promissor. Sabemos da desvalorização do professor como viés para a má educação como forma de domínio. A educação politiza o homem, eis o perigo para os mandantes. A politização tem sido na história do nosso país vista como uma ameaça ao poder instalado e suas classes tradicionais que se revezam de tempos em tempos em seus mandantes “eleitos”. Um perigo formar libertários. Um perigo a autonomia. Melhor é ter os burricos no cabresto e com as cangalhas cheias. Assim desinformados e tendo que trabalhar muito para sobrevivência como pensariam na educação como transformadora social? Melhor ainda: o governo dá a educação básica de péssima qualidade, investindo pouco e discursando que o país é de todos e que todos estão tendo oportunidades. Eta cabrestinho bom! A formação dos professores é péssima por que não foi permitido pensar em autoformação. Todos os sistemas de ensino são sistemas prisionais porque viciam os que haveriam de ser livres pensadores em dependências. Eles se vêem dependentes do estado, de reitorias, de métodos, de empregos, de consumos e sonhos de melhoria da própria vida. Deixam –se usar como instrumento político de alienação mais que educadores. Não refletem e não contestam, são empregados ameaçados e amordaçados pelo medo de represálias. Mesmo os estudantes hoje, parecem ter menos sangue nas veias. Não vão para as ruas gritar contra tanta corrupção. Não derrubam seus políticos por fraqueza, por falta de união e de voz perante a sociedade e como sociedade. Foram formados assim até onde estão. A maioria dos estudantes não reconhece suas utilidades enquanto estudantes. Somos estudantes formados sem criticidade.
Se há dificuldade em interpretar um texto imagine a realidade...que cidadão está se formando ou sendo formado? Como diria meu pai: "Cipó torce enquanto é verde".
Hoje este é o Koan: Ser formado é se formar?

Educação Física para todos!

A frase é bonita, parece slogan. Apesar de abordagens visarem pessoas com necessidades especiais a prática e o ensino da educação é defasado pelo conhecimento que o professor se propôs mesmo para pessoas sem necessidades especiais e carentes. Para rimar, há professores que são e ensinam como ser robôs. São aos alienantes. Antes fossem alienígenas. Discursam e fazem e repetem o que foi imposto como a verdade pedagógica. E os alunos aceitam de bom grado a matéria sem se darem por inquirir o objetivo e a capacidade do ensinante. Muitos ensinantes incapacitados se escondem atrás da máscara do “legal”. O professor é legal mas não sabe o que e como ensinar. Está ali pela graduação obtida mais que pela vocação, ou se esconde num “emprego”. Ele monta sua ementa, seu plano disciplinar anual e o segue como roteiro turístico, sendo ele próprio o turista perdido, sem guia. Na última aula de Metodologia e Prática de Ensino( ele precisa saber que muitos de seus colegas de instituição precisam de suas aulas) ele perguntou se colocaríamos um aluno para fora de sala por indisciplina e por quê? Muitas respostas interessantes. Uns acham que a punição poderia disciplinar ou ensinar. Outros que a punição iria ridicularizar o aluno e torná-lo ainda mais frustrado como a escola. Outros que o professor precisava impor respeito para ser respeitado... nada de ainda que endurecer perder a ternura jamais. O que ninguém se atentou era a oportunidade perdida de educar em vez de pensar em punir ou não punir. Um aluno indisciplinado é o mais necessitado de um educador. E este foge pelas vias da punição ou da indiferença. Professores tendem ao escapismo quando um aluno se revela problema, ele quer jogar a “bomba” nas mãos da coordenação ou dos pais ou da sociedade. Vejo que muitos professores não estão preparados para se relacionarem com os alunos. Eles tendem a seguir o senso comum onde a simpatia, a empatia, as afinidades estabelecem as relações, agradáveis claro. O grupo tende a se firmar por propósitos em comum, características em comum. Nos grupos mesmo de diferentes, não há espaço para as diferenças. Um desrespeito à singularidade do ser humano. Mesmo os professores de professores como ocorre nos cursos de licenciatura, repetem práticas sem nenhuma reflexão sobre as realidades de seus alunos, futuros professores. Precisa-se de pessoas que enxerguem na escola mais que um prédio preparando gente para o mercado de trabalho. Recentemente numa aula de recreação fui barrado por estar de calça jeans. Pensei que haveria uma prática onde seria exigida uma certa plasticidade, daí o necessário abrigo esportivo. Engano meu, práticas de jogos cooperativos não costumam ser intensas. Ela estava incorporando as normas da faculdade em suas aulas, estava obedecendo. Percebido isto, vendo que naquele momento surgia uma oportunidade de me educar ante minha própria revolta, percebi que aquela frustração poderia ser útil. Sentindo na pele uma educação excludente resolvi postar aqui uma autodeterminação: o mais importando é o educando e não a escola. De modo que quando professor eu possa ouvir as dificuldades de meu aluno antes da aula em vez de seguir cegamente uma norma. De modo que em minha formação eu tenha tido experiência e orientação o suficiente para adaptar a aula ao aluno e não o aluno à aula. De modo que eu saiba o quão aquele tempo e aquela aula e minha ação como educador são importantes para ele. De modo que ele aprenda por si mesmo como eu faço agora o valor das normas, da aceitação e do repúdio. De modo que ele veja no educador apenas um ser humano, tentando ganhar a vida ainda que pense que um educador seria capaz de sacrificar alguns valores para se manter sensível às dificuldades do educando. Em suma, que eu tenha forças para não sucumbir às exigências do mercado e preste meus serviços às exigências humanas. Aquela aula e outras aulas onde fui discriminado por não estar vestido adequadamente não se apagarão de minha memória. Obrigar alguém estar vestido para fazer alguma coisa é ensiná-lo a representar papéis calcando na vestimenta uma senha para a entrada do conhecimento necessário. Educar não é representar ou ensinar representação. Eu poderia pensar que a professora estaria me passando um valor, o respeito, respeitando uma norma instituída pelos dirigentes da faculdade. Mas minha formação até aqui não permite essa autocomplacência em forma de solidariedade. O desrespeito vem lá de cima como uma chuva suja. Ninguém é respeitado desrespeitando. Mas como respeitar a discriminação? Como respeitar atitudes desrespeitosas? Como ver numa pessoa o crachá de educador e perceber que ele mesmo não tem autonomia e querê-lo como modelo e guia na jornada?
Ser professor não é contar piada durante a aula para conquistar o aluno. Não é dar o que o aluno quer. Não é animar a galera. Não é bancar o cara legal e mostrar num aluno-modelo como os outros devam se comportar. Não é ditar regras. Não é doutrinar. Não é deixar alguém de lado, fora do grupo, fora da prática, fora do ensino para se livrar de um problema. É desmotivante ver professores que em vez de darem conteúdos com conteúdo apenas ensinam suas profissões e como se dar bem nelas. É desmotivante ver professores não comprometidos com o ensino, apenas cumprindo uma cláusula contratual. Quanta desmotivação há em ver professores que não professam, mas que repetem automatizados práticas ditadas pelo mercado de trabalho. Quanta desmotivação em ver a falta de domínio do que ensinam quando surgem os obstáculos da inquirição. E quanta desmotivação há em vê-los não vivenciando o que ensinam.
Dizendo que a educação física é para todos e tirando os alunos da aula, que desmotivante. Não é à toa que um estimado me disse que há muitos professores e poucos educadores. Que desmotivante. A desmotivação traz apatia. Vamos reverter as dificuldades em oportunidades. Que a observação seja seguida de reflexão e a reflexão de ação. Observados e contextualizados a discriminação, o desrespeito, e a exclusão , assim como a doença pode nos guiar para um busca por saúde, que nos eduquemos enxergando-os em falsos valores, mascarados em práticas e atitudes de educação. Educar não é seguir e nem ensinar a seguir regras. Um professor muito respeitoso de regras é um perigo. Toda regra é por natureza discriminatória. Educação Física para todos! Isso pareceu uma regra no disparate da generalização. O autoritarismo está sombreado na regra. A regra não simplifica, ela reduz. E está em toda relação hipócrita entre educandos e educadores. A regra é quase sempre punitiva e geradora de mais punições. E a exceção por direito? A exceção fica excluída, não participa, é privada de movimento, vista (ensina-se isto) como monstruosidade, defeito.
Questionemos as proibições. Questionemos as liberdades. Questionemos as regras. Questionemos a educação e a Educação Física, para que elas sejam para todos.

Cuidar da vida

Pesquisas têm mostrado que o brasileiro não tem percepção do seu estado de saúde. É difícil mesmo para os profissionais da área de saúde promoverem mudanças de atitude. Sendo que estes estão no final da fila como exemplo. Cardíacos continuam fumando, alcólatras continuam bebendo, hipertensos abusam do sal; diabéticos, do açúcar. As pessoas subiram tão alto em suas profissões para ver a vida de um único ângulo: o da saciedade. Elas procuram algum tipo de satisfação. Uma satisfação que as preencha nem que seja por cinco minutos, por uma refeição, por um momento de atenção e companhia. Há um isolamento se fazendo presente no ser humano, um isolamento dele mesmo. O ser humano tem se aceitado cada vez menos. Tem se afastado das coisas simples e naturais em nome dos modismos. Tem adoecido por que está sob controle da mídia. Tem sofrido em seu íntimo porque não construiu o hábito de se relacionar consigo. Não sabe quais são seus valores, ou em quem se inspirar. Em suma, a humanidade está pondo o planeta a perder porque não sabe cuidar da vida, as pessoas não sabem se cuidar. Acham que se cuidar é o que foi ensinado: cuidar de ter alguma coisa ou de alguma coisa que tem. Ninguém cuida de quem é. Está muito próximo o ter do ser. Chego a pensar que um se fantasia do outro. Ter fantasiado de ser e ser fantasiado de ter. Estamos confusos, não somos olhados se não chamarmos a atenção. As pessoas já não cuidam de suas vidas. Cuidar da vida para a maioria é viver egoisticamente. Fechadas em relações onde não há trocas, educadas para uma profissão, vivem num estilo de vida ditado por suas supostas escolhas. Precisam dizer uns aos outros o tempo todo quem são, o que fazem, o quanto ganham, o que têm... e assim com sua sociabilização fundamentada na hipocrisia o ser humano tem rido de infelicidade e vivido de transtorno a transtorno. Ora preso, ora perdido vai se destruindo e destruindo tudo que o rodeia. Ele tem desaprendido a relação entre vida, amor, respeito e cuidado.

Educação Física Escolar e Cidadania


A Educação Física é um entendimento prático do ser humano como centro do projeto educacional. Em suas múltiplas facetas busca a formação integral desse homem, ou seja, seu desenvolvimento físico, mental e espiritual. No decorrer de sua história a ciência do movimento humano foi vista e influenciada por diversas correntes filosóficas em todas as sociedades e culturas. Ela nunca foi única para todos, e tendo no corpo e na cultura de movimentos seu objeto foi representante legítima da expressão, da arte e da essência humana em toda sua diversidade. A Educação Física chega até nós vinda de muitos rumos diferentes, todos atrelados à algum momento histórico. Suas crises foram crises da humanidade. Sua importância tão pouca discutida no passado vem se mostrando na sociedade contemporânea, doente pela falta de movimento e pelas visões distorcidas a respeito de seu corpo, o corpo social. Precisamos repensar o movimento social e o corpo social. Assim quem sabe vemos como estamos vivendo e se queremos prosseguir, ou mudar. O movimento social é o movimento por uma vida digna de se viver. O corpo social é o corpo cidadão, o que busca por uma vida que seja expressão de suas responsabilidades e liberdades. Entenda-se que a EF é vista como filha de outras ciências como a Filosofia e a Medicina, por exemplo. Grandes filósofos cuidaram de seus corpos e dos prazeres transcendidos pelo corpo. Grandes médicos estudaram o corpo, pois salvar uma vida era e é salvar um corpo. E que atualmente muitas de suas abordagens nasceram da interação com outros ramos científicos como a psicologia e a biologia. O peso que o fazer ciência tem na sociedade é muito maior que o fazer educação. Ele dita a tendência, o modo de viver e pensar. A educação existe apenas fora do senso comum. Para a maioria das pessoas educar-se é concluir etapas da aprendizagem escolar. Educação é vista como sinônimo de escolaridade. Pior ainda é o pensamento de que educação é etiqueta. Educação é o relacionamento amoroso entre o transmitir e receber cultura. E isso está além do aprender e ensinar e na definição de papéis entre professor e aluno. Se o aprender parte de uma opção individual e ensinar é um ato coletivo, podemos observar que o aprendizado nem sempre é fruto do ensino. E que ensino precisa de um local próprio em tempo adequado. Já a educação ocorre em qualquer lugar a qualquer hora, tendo o educando como ponte entre o conhecimento e sua realidade. Aí vemos o quão vital é a participação da escola na educação para além da formação técnica ou profissional. O quanto o espaço institucionalizado de ensino pode agregar ou desagregar valores a partir de suas práticas pedagógicas. Há bons profissionais sendo péssimos cidadãos. Há grandes cientistas sem nenhuma ética. E há a massa na miséria da heteronomia. A falta de ética e de autonomia revela o sedentarismo caótico que é a falta de mobilização que de repente, não mais que de repente pode estar no modo de como essa sociedade teve e interpretou suas vivências motoras nas aulas de EF. A falta de reflexão e aprofundamento nos significados do corpo e seus movimentos adoecem a sociedade. Não é a toa que ela além de conivente é participativa em vários crimes que a vitimam. A força do discurso individualista não é visto no coletivo. Esse povo vai dando um jeitinho e vai vivendo. Esse povo que burlava as regras no jogo numa aula de EF, ou que não aceitava perder e fazia de tudo para continuar no jogo pelo que ele representava naquele momento...Talvez a intervenção de um professor de Educação Física seja mais do que dar o jogo, a brincadeira ou esporte. Quem sabe em sua prática ele possa dizer de um jeito muito marcante que conseguir viver não é dar um jeitinho para viver. Vivenciando os valores que acredita possa esse professor ensinar sobre cidadania. Ser cidadão: ter uma posição na sociedade refletindo sobre os valores vigentes, aceitando-os ou não com liberdade, consciência e responsabilidade. A criança precisa das mãos de um educador. E os jogos, brincadeiras, danças , as atividades rítmicas e expressivas e principalmente os esportes possuem valores que só podem ser passados por educador físico.Uma aula de EF, educação física escolar é uma aula de cidadania, uma aula que objetiva que não a formação da atleta, mas a formação do cidadão pautada no respeito, diálogo, solidariedade e justiça ou seja , discussão e abordagem do "tema" Ética no dia-a-dia dos alunos. Cidadania se aprende na escola também, e na aula de Educação Física.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Beleza é saúde e saúde é beleza

Quando nos entendemos como nossa própria auto-expressão fica impossível dissociar saúde e beleza. Tanta gente se matando em nome de um ou de outro, talvez por falta de uma compreensão mais holística de si mesmo... o apego a forma em comum entre as os dois. Ninguém fala em funcionamento. Uma beleza e uma saúde úteis. Para quê ser saudável e esbelto? A mídia impõe os padrões. A educação e as relações sociais firmam o que é e o que não é. E assim adoecemos em busca de saúde e de beleza. Olhamos para o espelho e somos incapazes de ver que não somos aquele reflexo. Nossa imagem fica desentendida como mensagem. O que a sua forma e a sua doença querem te dizer? _Pergunto-me. Onde está minha desatenção? O que tenho feito como meus problemas e o que eles tem feito de mim? Como eu tenho me ajudado ou procurado por ajuda?

A forma pode enganar. Aparências enganam. Nós nos enganamos. Há pessoas lindas sem saúde ou se não se cuidando. Cada um tem seu sentido, seu entendimento de vida , saúde e beleza...somos uma diversidade de singularidades. Saúde e beleza têm a ver com sentimento. Como nos sentimos? Como nós trocamos esses sentimentos com os outros e com o mundo para nos construirmos muito além da imagem na representação corporal?

A verdadeira beleza é a saúde. Que como a arte nos liberta. Que nos faz usufruir da potência que somos. Que se expressa no simples sorriso. A verdadeira beleza é a felicidade. Estamos felizes no sentirmos bem e em nos sentirmos bem. Saúde, beleza e felicidade nascem conosco e/ou podem ser construídas a partir da autoconsciência. Tudo pode mudar para melhor. Desejemos isso assumidamente. A beleza para ser vista e sentida precisa de olhos, coração e cérebro saudáveis ( funcionando no bem-estar). Percepção, sensibilidade e razão alinhados e interagindo... tenhamos essa proximidade entre o cérebro e coração para vermos claramente. Felizes, saudáveis e belos somos a vida em sua corporeidade. Releituras de nossos hábitos , sentimentos e pensamentos permitem novas abordagens para a realidade. Não nos entenderemos com o mundo sem nos entendermos primeiro. Sempre penso no dualismo e o quão desintegrador ele é. Eu e você, corpo e mente, saúde e doença, tristeza e alegria, prazer e dor... vemos a dimensão do conflito em vez da cooperação. Opostos mais que dispostos. Separados mais que unidos. Conclusões sendo que nada é conclusivo. Então hoje minha mensagem para meu corpo é que : saúde é beleza. Beleza é Saúde. E tudo é uma felicidade. É muito bom estar aqui e agora...obrigado vida sempre! Contribuição de Brahmananda Das para reflexão:

" A estrutura determina o comportamento. O que significa: a forma do seu corpo determina a forma como você funciona. Essa idéia pode soar fatalista se não for acrescentado o mais importante: a forma é maleável. À primeira vista, essa idéia pode parecer evidente. Mas é, de fato, revolucionária...já que a forma é modificável, que se pode desfazer as tensões, corrigir as anomalias e restabelecer o equilíbrio, então: SOMOS TODOS (POTENCIALMENTE) BELOS E BEM-FEITOS." Bertherat, Thérèse. O correio do corpo/ martins fontes 10ª ed 2001, p6-7.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A ética e o corpo

Como eu tenho tratado meu corpo? Tenho nutrido, tenho descansado, tenho dado a ele atividades nobres e recreativas, tenho dado a ele consciência? Tenho tido uma relação de qualidade com ele? Tenho respeitado? Como eu tenho me educado sendo este corpo?

Quando nascemos , nascemos numa sociedade com sua moral vigente. O corpo nasce e cresce numa fôrma de comportamentos e gestos impostos como aceitáveis. E mente segue o corpo. A mente se desenvolve sem inquirir, numa caixa, tendo-se como conteúdo e expressão de uma natureza mais íntima e subjetiva. O que ou quem faz a nossa cabeça? O que ou quem faz o nosso corpo?

Hoje somos bombardeados por estímulos e informações de toda sorte. Não há tempo para reflexão, digestão e mesmo apreciação do tipo de vida que temos vivido. Estamos num fluxo no meio da manada. E se pararmos, somos pisoteados por ela. Na manada somos iguais. Temos um comportamento ditado por alguma liderança a qual seguimos conscientemente ou não. Temos a necessidade da manada, a necessidade de pertencermos, a necessidade de sermos aceitos. A força está em estarmos na manada. É a nossa proteção. E uma das falas mais repetidas é o do contato. Que tipo de contato? O que te promove. O do tipo abre-portas. Conserve seus contatos, e cultive novos. Escore-se na vida social para obter sucesso profissional. Estamos em constante contato, mas um contato que muitas vezes nos distanciam de nós mesmos. Temos a tendência de seguir e de agradar, somos servos dessa tendência. E o corpo, por onde anda nosso corpo? O que ele tem experimentado?

O corpo recebe. Recebe tudo. E chega uma hora que ele transborda, que não contém. Nele já não cabe nem os encantamentos dos pequenos detalhes da vida. Ele está esgotado pelo esquecimento bipolar: excesso ou falta de zelo. O corpo adoece, e morre quando a mente adoeceu e morreu primeiro. Quando uma mensagem subliminar do caos se instaurou via sociedade no âmago do ser. E ele sem autonomia, sem onda própria fez a vida uma repetição de movimentos, de sentimentos de pensamentos em busca de alguma segurança e conforto. O corpo é a primeira voz. O primeiro som é o romper da vida nos primeiros momentos de formação do ser humano a partir do próprio corpo.

Nossa relação com o corpo se dá pelo prazer que buscamos e pela dor que evitamos. Poucos camaradas querem ir além. Querem uma visão holística e transcendente. Vejo no curso de E.F como lidamos com nossas emoções presas na entidade corpórea. Somos um emaranhado de incetezas e indecisões perdidos entre as próprias escolhas. Então não é raro vermos professores e estudantes de EF deteriorando-se por hábitos poucos saudáveis. Eles não vivem a própria Educação Física. Não se educam. Desrespeitam-se e aos outros. Tudo num clima de descontração, bagunça solidária, indiferenças. Estão cursando, aprimorando-se no como deixar os preconceitos rentáveis, a falta de ética aceitável, e a indisciplina agradável. Talvez um curso de E.F seja um apontamento do quão degradado e sem valores anda o espírito humano.

A ética implica em reflexão, em crítica. É difícil definir o que seja ético por que estão no alicerce valores construídos e valores em construção. Vale lembrar que devido a esse caráter subjetivo, a ética pode não estar de acordo com a moral vigente. Moral social, ética pessoal. Bem, então desse pressuposto a moral é feita pela congruência ética da maioria numa sociedade. O que temos de moral, foi decidido por outrem numa tentativa talvez ética, de controle, de supressão de alguma desordem ou caos. E o corpo e seu comportamento podem liberar nosso pensamento, podem clarear nossa idéia a respeito de nossas escolhas: escolhemos ou somos escolhidos? Escolhemos ou alguém escolhe através de nós?

Cuidemo-nos cuidando do corpo. Lembro que Platão compara o Estado ao corpo humano: cabeça, os governantes; o peito, soldados; o baixo-ventre, trabalhadores. Oras carambolas! Não é o corpo um Estado do Ser ou o próprio Ser em seu Estado de ser? Cuidemos daquele que em nós nos governa, nos protege e nos faz.

A banalização do corpo é a banalização da consciência e da vida. Refletir com alguma criticidade a respeito do que a moral tem feito com nossos corpos no decorrer do tempo, refletir sobre como temos recebido e expressado essa herança nas dimensões social, biológica e cultural, isso sim fará a diferença. O que pode mudar nossos corpos é o exercício da conscientização. Quanto mais forte a "consciência do corpo", maiores e mais significantes são as mudanças. Maior e mais significante é a vida.